ZÉ AREIA, TIRADAS E REPENTES –

Voltamos a contar algumas tiradas de Zé Areia Filho (1901-1972), ou simplesmente Zé Areia, que marcou época em Natal, com as suas respostas demolidoras. Mas as suas histórias se propagaram e permanecem bem lembradas nos dias atuais. Entre as dezenas de autores que já escreveram sobre ele, cito alguns: Câmara Cascudo, Veríssimo de Melo (“Sátiras e epigramas de Zé Areia”), Sanderson Negreiros (“Domador da surpresa”), Luiz Lobo, Ney Leandro de Castro, Guga Coelho Leal, José Alexandre Garcia (“Acontecências e tipos da Confeitaria Delícia”), Nilo Pereira, Wilson Lins, Fernando Caldas, Juarez Chagas, Oswaldo Lamartine (“Uns fesceninos”) e muitos outros.

Israel Guanabara Azevedo indagou a Zé Areia: – Zé, eu vou viajar agora a Mossoró. Estou apenas aguardando uma documentação do escritório. Você seria capaz de cortar o meu cabelo sem deixar cair um fio de cabelo na minha roupa? Zé Areia respondeu afirmativamente,

Passou defronte de Israel, de cabeça baixa. Foi lá na frente, deu a volta e passou novamente. Israel, já impaciente: – Como é, Zé Areia, vai ou não vai cortar o meu cabelo? Resposta de Zé: – Estou esperando que você tire a roupa e fique completamente nu, para poder cortar e não cair um fio em sua roupa!

Zé Areia e o juiz Eutiquiano Reis eram velhos amigos, num encontro dos dois, houve diálogo inusitado. Eutiquiano perguntou: – Zé Areia, como é a sua vida sexual? Resposta tranquila de Zé: – Muito simples. À noite, em casa, quebro o galho com a velha. De manhã, na barbearia, tem um menino que varre a casa e “arrasta uma asa”… Então você já sabe como é… Ao meio dia, na hora do banho, aquela estória do sabonete que escorrega e então eu toco uma valsa… Eutiquiano, veemente, protestou: – Zé Areia você é um tarado! Você está doente. Você precisa ir urgente a um médico! Zé Areia foi saindo, de cabeça baixa. De repente, voltou-se e indagou: – E isso é doença que se trate?

Esta foi Diógenes da Cunha Lima quem contou. Num carnaval, saiu com Zé Areia, num jeep, visitando os bares e comendo água. O Rei Momo oficial era Paulo Maux. Zé Areia era o Rei Momo contestatário. Os discursos se sucediam de bar em bar. Na volta do jeep, numa esquina, Zé Areia, que já estava “alto”, foi cuspido fora do veículo. Perdeu os sentidos. Diógenes, rápido, levou-o ao Pronto Socorro. Atendido por um médico jovem, conhecido na cidade pela sua feiura, Zé Areia recebeu os primeiros curativos de urgência. Logo, readquirindo os sentidos, abriu os olhos e fitou o tal médico ao lado, exclamando: – Eu prefiro desmaiar novamente!

Essa foi contada por Raimundo do Cartório. Zé Areia tinha sido encarregado de cobrar uma dívida de dez contos de réis de um tal Medeiros, sujeito velhaco e esquivo. Zé Areia foi várias vezes à casa dele e o homem sempre arranjando uma desculpa para não pagar a dívida. Finalmente, um dia, o homem resolveu pagar metade da dívida, prometendo pagar a outra metade dentro de trinta dias. Reencontrando com o credor, este perguntou: – Então, Zé Areia? E a conta dos dez mil, recebeu? Resposta de Zé: – A minha parte (a comissão) eu já recebi. A sua, só daqui a trinta dias!

Durante a guerra, Zé Areia foi contratado para passar umas semanas em Dakar, cortando cabelo dos americanos. Conta-se que uma tarde, ele estava na porta da barbearia, muito triste, com saudades de Natal. Eis que vem chegando um soldado americano, bêbado, com um copo na mão, indagando: – Do you like drink? Ao que Zé Areia respondeu: – Laicar eu laico, só não tenho I have Money!

Num carnaval Zé Areia saiu fantasiado de mulher, carregando às costas um saco de cabaços, tendo em baixo um cartaz, com os dizeres: – “QUEM TIRAR UM, VAI PRESO”.

Um dos melhores trocadilhos de Zé Areia foi aquele a respeito de dez dólares. Durante a guerra, ele vendia também galinhas aos norte-americanos. A um soldado, Zé Areia conseguiu vender uma delas por dez dólares, o que era um preço absurdo, na época. A galinha custava quatro, no máximo, cinco mil réis. No dia seguinte, um dos cônsules foi procurar Zé Areia e fez queixa: – Senhor vendeu galinha soldado por DEZ DÓLARES? Zé Areia contestou: – Não senhor, quando o Americano chegou aqui me perguntou: – How much? Eu indaguei: – Tem dólares? Aí ele me deu uma nota de dez dólares pela galinha…

Aldemário Martins, saltando de um bote da Redinha, encontrou Zé Areia sozinho, com uma vara de pescar dentro d’água, num local muito inconveniente – o cais da Tavares de Lira. No dia seguinte, encontrando Zé Areia, indagou: – Zé Areia, você conseguiu pegar alguma coisa ontem naquele local? Resposta: – Peguei. Peguei no sono!

Entrando numa peixada, nas Rocas, Zé Areia observou vários rapazes que discutiam sobre a melhor parte do peixe. Ninguém dava importância a Zé Areia, por ser um freguês sabidamente pobre. Lá pras tantas, um dos rapazes pediu a opinião dele sobre a parte do peixe que preferia. Improvisou esta quadrinha: Embora tudo aconteça, De valente eu não me gabo; Do peixe quero a cabeça, Da mulher prefiro o rabo. A dona da Peixaria botou-o para fora, pelo desrespeito.

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor
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