VIRAMUNDO 90 –

Pedro Raimundo era considerado um “cabra da peste” pelos amigos e vizinhos do Alecrim, bairro populoso e agitado em Natal.

Pedrão, como era conhecido, era um homem de baixa estatura, forte, tinha uma tatuagem no braço esquerdo com o rosto de Jesus Cristo e andava de bermuda, camisa de botão e chinela japonesa.

Tinha ali na Rua dos Pegas sua mercearia onde vendia tudo desde beijão de gás a biscoito creme craque.

Só não vendia cachaça nem cigarro pra não estimular o vício.

A mulher, dona Zulmira, ficava “lá pra dentro” tomam conta dos seis filhos onde o mais velho, aos 14 anos, trabalhava com ele na “vendinha” com o sugestivo nome de VENDINHA DO PEDRÃO.

– Pedrão esse menino não pode trabalhar, é proibido. Tem que está eh na escola.

– Ele trabalha e estuda. Não quero meu filho vagabundo. Eu comecei aos 11 e não morri.

Pedrão sempre foi muito batalhador, não fumava e tinha o hábito de beber umas cervejinhas aos domingos, em casa mesmo.
– Isso eh pra recarregar a bateria.

Um dia chegou um camarada do supermercado Nova Esperança, de Lagoa Nova, pra comprar a “Vendinha”.

– Não vendo. Eh com isso aqui que eu mantenho minha família.

– Mas, seu Pedrão com o dinheiro o senhor pode abrir noutro lugar.

– Não tenho interesse de sair daqui. Nasci aqui, vivo aqui e vou morrer aqui.

Tempos depois o Nordestão comprou a vendinha e deixou Pedrão como gerente.

Boa jogada de Marketing.

Com o negócio fechado Pedrão comprou uma casa na Jaguarari e dona Zulmira montou uma pequena lanchonete em casa.

Sempre trabalhando muito, Pedrão foi gerenciar o departamento de compras e se deu bem. Principalmente no setor de hortifrutigranjeiro.

Nunca tirou férias e na empresa, agora como funcionário, teve direito a passar um mês sem trabalhar.

Aproveitou a oportunidade e saiu com da. Zulmira pra conhecer São Paulo.

Voltou encantado com a cidade.

– Eh bonito ver todo mundo trabalhando, as escolas funcionando, uma riqueza.

Agora Pedrão estava triste. Apareceu uma doença misteriosa chamada da “Preste chinesa” que veio pra desorganizar tudo, no Brasil.

O noticiário intenso mostrando que um vírus produzido na China veio pra matar muita gente, fechar empresas e escolas e obrigar o pessoal a ficar em casa pra se proteger.

Pedrão ficou apavorado com tanta notícia ruim.

Mas ele tinha que sair pra trabalhar. As vendas começaram a cair e a empresa teve que demitir pessoas e reduzir as compras.

Pedrão foi demitido, dona Zulmira fechou a Lanchonete e os menino ficaram sem escola

– Coisa de comunista, isso que tá acontecendo por aqui.

Sem trabalhar e obrigado a ficar em casa o dinheiro foi acabando e os problemas surgindo.

– Vamos pra igreja com os meninos, Zulmira, pedir Deus proteção.

– Eles fecharam a igreja.

– E agora, vamos fazer o que?

– Ficar em casa, como eles querem.

– Não eh possível. Não aguento ficar parado. O dinheiro tá se acabando Zu. Vamos fazer o que?

– Ficar em casa como eles querem.

Inventaram o nome de pandemia mas acho que é fraude tamanha a esculhambação.

Proibiram o presidente de se envolver com os governadores e prefeitos no controle da doença e liberaram licitação pra eles comprarem material e equipamentos.

– Num tá vendo Zu que esse negocio num vai dar certo.

E não deu. Meteram a mão no dinheiro, foi roubalheira pra tudo quanto eh lado e o número de mortos pela peste chinesa eh muito pouco.

Pedrão já estava há três meses ficando em casa com a mulher e os meninos. Uma deprê danada aí pegou um pouco de dinheiro que restava e comprou frutas e legumes pra vender; em casa mesmo. Era o que sabia fazer.

Certo dia, em pleno movimento; chegou um carro da polícia pra recolher as mercadorias e atendê-lo porquê ele estava infringiu a Lei.

Pedrão se desesperou, vendedor o que tinha pela metade do preço e foi morar numa casa alugada na praia de Santa Rita.

Um inferno. Sem dinheiro e proibido de trabalhar; foi pescar, pelo menos tinha o que comer.

Encontrei Pedrão na pescaria; triste e sem vontade de fazer nada.

Ricardinho, o filho mais velho, conseguia acalmar o pai, desolado.

Encontrei Pedrão na volta pra casa com alguns peixes e perguntei:

– Pedrão; você acha que o Brasil sai dessa?

– Claro. Aqui nos temos Deus, a Internet e o povo. Essas três coisas os comunistas não toleram e ainda tem um presidente que está cumprindo suas obrigações e por isso não vamos deixar a China mandar em nos.

 

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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