VIRAMUNDO 87 –

Ricardo Almeida Souza era de Alexandria região quente em todos os sentidos, na tromba do elefante, pertinho de Patu, no Rio Grande do Norte.

Menino travesso sempre envolvido em confusão.

Na escola era o terror dos professores com suas “perguntas de bolso” que os atormentavam.

– Professor como deveria ser o nome do nosso idioma?

– Como assim?

– Na Inglaterra é Inglês, na França é francês, em Portugal é português e aqui no Brasil?

– Português também.

– Não. BRASILÊS.

Ele sempre fazia isso com os professores na sala de aula em frente aos colegas.

– Professor, 2 mais 2 quanto é?

– 4.

– Pode ser também 22.

Era só provocação.

Um dia ele chegou atrasado e cumprimentou o colegas, assim:

– Amigos bundinha, bundinha

E a professora retrucou:

– Que é isso Ricardinho?

– Nádegas, nádegas.

A turma ria e gozava com a cara da professora que geralmente mandava ele de castigo na Secretaria

Mexia com todo mundo e um dia pediu favor ao inspetor de alunos que o atendeu e agradeceu assim:

– Viado.

– Como foi que você falou?

– Obrigado.

– Ah! Sim, entendi outra coisa.

Ricardinho era muito amigo de Humberto. Andavam sempre juntos e tinha uma menina muito bonita na escola cujo apelido era “postal” por ser orgulhosa e não dava cabimento pra ninguém.

Os dois viviam paquerando a menina e Humberto falou:

– Sou doido pra namorar essa menina, mas não dá bolas pra mim.

– Eu também.
Um belo dia tá lá Ricardinho avançado com a “postal” e Humberto ficou super chateado com o amigo.

– Poxa Ricardinho eu falei pra você que eu era doido por essa menina e você foi lá e me passou pra trás.

– Você falou isso pra ela?

– Não.

– Então eu fui lá e falei, numa boa.

Ficaram “de mau” os dois.

O pai de Ricardinho, seu Fernando, fazendeiro em Alexandria, mandou Ricardinho estudar em Recife no Colégio

Salesiano e alugou um kit-net pertinho da escola, mobiliado, pra ele ficar morando lá.

Com o tempo arranjou uma namoradinha e ela veio morar com ele.

Dormindo em cama de solteiro logo providenciou uma rede pra ficarem mais a vontade

Seu Fernando foi ao Recife e não gostou de ver Ricardinho “casado”.

– Que história é essa rapaz. Onde arrumou essa mulher?

– Estuda comigo na faxuldade. É gente voa pai; não se precupe.

– Claro que me preocupo. A despesa aumentou. Ela colabora com alguma coisa?

– Muito pouco.

– Cuidado pra não engravidar. Muito cuidado.

Ricardinho e Isabel se davam muito bem e ele terminou medicina com muito sacrifício.

Isabel fazia enfermagem e conseguiu estagiar no hospital da Universidade Federal de Pernambuco.

Montaram uma pequena clínica em Boa Viagem e seu Fernando investiu uma dinheiro lá.

A Clínica Dermatológica São Fernando tinha um grande movimento.

Com o sol forte durante quase todo ano, aparecia muita gente com problema de pele.

Quando Fernandinho Neto nasceu, Isabel se afastou um pouco da clínica pra cuidar dele.

– Não quero empregada tomando conta de Fernandinho. Pelo menos ate ele ir pra escola, entendeu Bel?

– Sim, mas eu não vou parar de trabalhar.

– Veja uma creche aqui pertinho e tudo bem.

Fernandinho era ativo e sapeca igual ao pai.

Quando completou 5 anos ganhou uma irmã. Claudinha, uma menina linda, de olhos verdes iguais aos da mãe.

Uma família feliz. No fim do ano foram passar as férias em Alexandria e Ricardinho encontrou Humberto e “postal” casados e com um filho de 18 anos.

– Perdi a timidez e fui falar com ela. Deu certo.

– Eu vi uma frase de um publicitário carioca que nunca esqueci: “se você não diz o que quer, não pode se queixar”.

Foram jantar juntos na Churrascaria do Pedrão e eu perguntei ao Ricardinho:

– Em quem você se inspirou na sua vida?

– Ariano Suassuna.

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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