VIRAMUNDO 76 –

Ele vivia socado na oficina do pai lá em Angicos, cidadezinha no interior do Rio Grande do Norte e era quem testava os carros dos clientes rodando com eles indo e voltando de Açu, pela BR.

José Filomeno, o Zé Filo, filho de seu Bartolomeu, Bartô da oficina, ensinava a galera a dar cavalo de pau em pleno centro da cidade, de madrugada, perturbando os vizinhos até a polícia chegar.

Todo mundo conhecida Zé Filo até ele viajar pra Recife conhecer os carrinhos do Kart.
Encheu tanto o saco de seu Bartô que construiu, na periferia, uma pista de corrida de Kart e era um sucesso nas manhãs de sábado.

Não perdia uma corrida de Fórmula 1 anos domingos, na Globo.

Botava um telão no Bar do Tio Pepe e juntava todo mundo pra ouvir Galvão Bueno elogiar Airton Senna curtindo o estridente Brasil, zil-zil e o jargão “Airton Sena do Brasil”.

Chorava de emoção quando Senna ganhava.

Ele quase morre junto quando Sena morreu na que acidente fatal.

– Nunca mais assisto Fórmula 1.

– Por que Zé?

– Sem Senna a F1 acabou pelo menos pra mim

E acabou mesmo. Com isso Zé Filo investiu no Kart levando para Angicos, como atração, Rubinho Barrichello, campeão paulista e um dos pretenso substitutos de Senna.

Ele foi uma vez pra Mossoró, de Kart e foi multado com a apreensão do veículo e quase foi preso.

Zé Filo era “doido de pedra”. Só andava em alta velocidade num doginho marrom, envenenado.

Ganhava quase todas as corridas de Kart e foi em Recife seu maior triunfo: campeão nordestino.

Em Angicos desfilou em carro de Bombeiro com o povo aplaudindo seu novo herói.

Ficou famoso junto a meninada mas foi Iracema de Itamaracá, uma morenaça de cabelos longos e pernas grossas quem ganhou seu coração.

Iracema curtia o kart e Zé fez de tudo e criou a categoria feminina sendo muito prestigiado pela mulherada.

Criou a União Potiguar de Kart e abriu em Natal uma pista bem estruturada e se deu bem.

O crescimento desse esporte levou Zé a passar uma temporada em Londres pra se aperfeiçoar e trazer novidades poro kart potiguar.

Ganhou dinheiro e fama. Quando voltou de Londres casou com a morenaça de cabelos longos e pernas grossas, na Igreja da Candelária, em Natal.

Foram morar em Ponta Negra e o filho Zé Filozinho foi aprender surf com Joca Júnior e não queria nada com kart, pra desgosto do pai.

– Liga não Zé, esse menino vai longe. Já, já ele vai pro topo e você vai feliz.

Não deu outra. Filozinho foi campeão potiguar e passou uma temporada no Rio.

Mamãe Iracema era todo orgulho quando ele voltou do Havaí com uma medalha de campeão, linda, de fazer inveja a muita gente.

A casa Em Ponta Negra era depósito dos carrinhos de Kart e pranchas de surf.

Filozão ampliou os negócios. Abriu uma boutique pra mulher e manteve Filozinho morando no Rio.

As despesas eram altas e o endividamento maior ainda.

Começaram os protestos e os credores, antes seus fãs adora eram cobradores impiedosos.

Zé Filo passou um tempo foragido que nem mulher sabia onde dele estava.

Um dia, numa quinta feira de manhã encontrei Zé tomando água de Coco, de bermuda e óculos escuros em plena ilha de Itamaracá, na barraca de Ivanildo beijoca e perguntei:

– Zé em quem você se inspirou pra viver assim?

– Emerson Fittipaldi.

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

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