VIRAMUNDO 158 –

Luizinho “mala véia” aos 10 anos já fumava maconha que um primo arranjava pra ele dizendo que era pra ele engordar.

Mala véia era muito magro e usava cabelo grande, preto, caindo na testa e cobrindo as orelhas.

Bichinho feio da gota, conhecido em Açu como menino viciado.

Veio morar em Natal junto com os pais que montaram um pequeno hotel na Avenida Rio Branco, no centro da cidade.

– Mala véia, agora tu vai se ajeitar, né?

– Por quê?

‐ Porque se a polícia pega, leva preso.

– Que nada. Policia é tudo igual.

Seu Cristóvam, pai de Mala véia, tinha mais dois filhos com duas mulheres, além da mãe de Mala véia.

– Minha mãe é abestada, não tem ciúme de meu pai e ele faz o que quer.

O hotel Americano era pequeno, mas confortável e as vezes servia de motel.

Ficava vizinho a uma farmácia popular que vendia remédio sem receita e era ótimo pra Mala véia que comprava até produto controlado, tarja preta.

Quando completou 18 anos já estava definitivamente no vicio.

Foi expulso do Atheneu, por vadiagem e seu Cristóvam arranjou um bom emprego pra ele na Cosern, mas foi demitido três meses depois porque pegaram ele fumando maconha no estacionamento, conversando com dois mendigos.

– Mala tu não dá certo na escola nem no trabalho. O que você pensa da vida.

– Porra nenhuma. Meu pai não me quer nem trabalhando no hotel. Diz que eu dou mal exemplo aos hóspedes.

– Por que você não se cuida e deixa esse vício de fumar maconha?

– Eu não. Vou experimentar cocaína. Dizem que é melhor. Vou ver.

– É bem mais caro, mas eu me viro. Tenho um amigo que me arranja por um precinho bom.

– Isso no início, depois o preço aumenta e você vai fazer o que?

– Não sei. Deixar de fumar e agora cheirar é que não vou.

Mala véia começou fazendo pequenos furtos até que um dia foi preso nas Lojas Americanas furtando um relógio de pulso.

Foi solto rapidinho na audiência de custódia.

O delegado conhecia seu Cristóvam e liberou Mala véia que devolveu o relógio.

Mala conheceu Suerda, uma menina de rua e engravidou a namorada.

– Vai abortar, Suerda. Eu não posso nem comigo quanto mais com um filho.

– Abortar é pecado. Vou criar sozinha, se for o caso.

Nasceu uma menina linda e seu Cristóvam deu toda assistência e empregou Suerda no hotel.

Enquanto isso Mala véia vivia na buraqueira, bebendo, fumando e cheirando.

Fazia vale em todo lugar.

As cobranças chegavam e seu Cristóvam pagava.

– Não sei mais o que fazer com esse meu filho.

– Pois é, o senhor não educou, taí o menino perdido.

Mala foi se alistar no exército mas não passou no exame psicotóxico.

Tentou a Marinha, foi a mesma coisa.

Foi pra Polícia Militar e quase fica preso.

Também não deu certo.

Pra conseguir dinheiro foi lavar carro na rua.

Cobrava 10 reais cada lavagem ali na Praça Cívica e tinha dia de ganhar 150 – 200 reais.

Levava um pouco de dinheiro pra filha e o sobrava era pro vício.

Luizinho Mala veía dormia no hotel do pai com Suerda e s filha.

Era amigo do pessoal da Farmácia e passou a consumir Kelene, um anestésico forte que quase o matou do coração.

Quando a filha completou 7 anos, quase morre de uma queda que sofreu no quintal do hotel. Passou momentos difíceis e Suerda pediu que ele fizesse mais companhia pra filha.

– Troque o vício pela sua filha. Faça isso pro nosso bem.

Mala véia chorou pela primeira vez na vida e prometeu ser um pai, de verdade.

O pai, seu Cristóvam, instalou um lava-jato pro Mala véia como presente pela sua mudança de vida.

Encontrei Mala Véia, Suerda e a filha Cristina tomando caldo de cana com pastel de queijo na feira do Alecrim e perguntei:

– Luizinho, em quem você se inspirou pra ter vivido essa vida errada?

– Luciano Nicotina.

 

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para YouTube

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