VIRAMUNDO 121 –

Arturzinho veio de Fernando Pedroza, lugarzinho perto de Angicos, grande produtor de queijos, do Rio Grande do Norte.

Chegou a Natal ainda jovem, na adolescência.

Vaidoso, elegante e muito ágil no trato com as meninas da Escola Doméstica.

– Artur, por que essa fixação nas meninas da Doméstica?

– Porque são da elite, bonitas e preparadas para o casamento.

– Mas você quer casar?

– Não, mas essas meninas aprendem a ser fiéis.

– Isso é bobagem.

– É não. Nós homens, na maioria, somos infiéis mas queremos mulheres só pra nós, fidelíssimas.

Arturzinho era um rapaz magro, boa estatura e se vestia bem.

Camisa da mesma cor da meia, calça social invariavelmente preta ou azul marinho e sapatos sociais, pretos.

Não usava tênis. Só quando ia jogar futebol de salão, onde era gênio.

Levava multidões aos ginásios onde seu time se apresentava.

– Artur e essas meninas?

– Eu jogo pra elas e quando termina o jogo eu escolho uma pra dar a camisa.

– E daí, rolar alguma coisa, depois?

– Nem sempre, mas disputam a minha camisa.

Uma vez jogando em Caicó uma menina loirinha, antes do jogo terminar, pulou o alambrado e agarrou Arturzinho, jogou-o no chão e tirou a camisa dele.

Ele, surpreso, não conseguiu reagir e o jogo terminou.

A menina vestiu a camisa de Arturzinho por cima da dela e gritou:

– Arturzinho, eu te amo.

Não é preciso dizer que ele ficou com medo e pediu proteção da polícia.

– Que doideira, bicho. Quase quebrou me braço.

– É assim mesmo. Vá se acostumando.

Mas Arturzinho adorava essas coisas.

Quando o time ia jogar em Mossoró ele pedia permissão pra se hospedar na casa de Luzia Queiroz, um cabaré de luxo que só tinha mulheres lindas, de outros estados.

Lá ele se sentia mais seguro.

Só saia pra treinar e jogar

Disputado pelas meninas de Natal e invejado pelos marmanjos, Arturzinho caprichava na aparência e esbanjava sua elegância aonde fosse.

Começou namorar a filha do governador, Ivete, linda e virgem.

Dengosa e andava com Arturzinho, de mãos dadas e, de vez em quando, beijava seu rosto provocando inveja nas pessoas.

Andavam sempre no Itamaraty preto, do governo mas quando ia a praia de Ponta Negra era no carro verde do governador.

O “amor é lindo” e eles faziam questão de torná-lo mais bonito ainda

Um dia Arturzinho voltava de uma excursão pela Europa, de dois meses, e viu sua Ivete namorando Iracildo, filho de um Deputado Federal, amigo do seu pai

Arturzinho ficou arrasado. Chorou copiosamente, abraçado a uma imagem de Nossa Senhora de Fátima que ele trouxe de Portugal, pra ela.

– Chore não Artur. Mulher é assim mesmo.

– Não. Pensei que minha Ivete fosse diferente.

Arturzinho perdeu a vontade de viver, saiu do time e entrou numa deprê danada.

Os amigos foram conversar com o governador.

– Chame Arturzinho aqui. Quero conversar com ele.

Artur, depois de relutar muito, resolveu ir e entende o porquê da traição.

– A culpa é minha, seu Artur. Eu prometi minha filha pro filho do meu amido Deputado.

– E ela aceitou, sem reclamar?

– Não. Ela disse que o ama muito e pediu que o recompensasse.

– Sim e o que o senhor pensa em fazer?

– Já mandei publicar no Diário Oficial, sua nomeação como Fiscal de Rendas, com um bom salário em caráter definitivo.

Arturzinho ficou sem saber o que fazer.

– Obrigado, senhor governador. Eu posso ver e conversar um pouco com Ivete?

– Sim.

Eles marcaram pra se encontrar sexta-feira as 17h em Pipa, ela indo de táxi, pra ninguém desconfiar.

Ela chegou linda, de vestido verde, chapéu de Yves Sain Loran, óculos escuros e bolsa bege da cor do chapéu.

Arturzinho estava de tênis branco, da Nike, meia soquete vermelha da cor da camisa, boné e óculos escuros, esportivo.

Cumprimentaram- se discretamente e saíram pra jantar num restaurante francês.

De volta ao hotel, foram se amar até sábado de manhã quando Ivete voltou pra Natal, de táxi.

Despedida majestosa deixou Arturzinho aliviado e consciente do seu amor por Ivete, mesmo sabendo que ela iria casar com outro.

Como Fiscal de Renda, Arturzinho ficou tranquilo, ganhando bem, livre e solto pra novas aventuras.

Quando viajava procurava ficar hospedado nos cabarés de pessoas conhecidas

Não quis casar, mas tinha uma coleção de mulheres.

Morava num apart hotel, sozinho e isso o deixava a vontade.

Encontrei Arturzinho com Aline, uma das namoradas, tomando uísque na piscina do Hotel Pirâmide e perguntei:

– Artur, em quem você se inspirou pra viver assim?

– Vinicius de Morais.

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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