VIRAMUNDO 110 –

Sidcley Quaresma veio de Mossoró, uma das grandes cidades do Rio Grande do Norte e foi morar na Casa do Estudante.

Não sabia direito o queria da vida, principalmente porque, estudando no Atheneu, andava a pé, mais de 1 km, todos os dias num longo trajeto, praticamente atravessando a cidade.

Tinha poucos amigos e o mais ligado a ele era um individuo de nome esquisito: Pecado.

Pecado era magro e feio, muito briguento e na época dos bondes passava sabão nos trilhos pros bondes subirem as ladeiras, com dificuldade.

Vivia provocando greve dos estudantes contra tudo.

Sidcley queria “aparecer” e colava em Pecado nessas arruaça e muitas se dava mal e ia preso também por desordem.

Cismou de fazer uma Revista: O Comércio.

Essa revista mostrava as movimentações comerciais de Mossoró e Natal.

Dizia que Mossoró era dependente de Fortaleza, superando em tudo a capital do Estado.

Conseguiu com isso um bom patrocínio e emprego na Casa Porcino, se tornando amigo do dono que tempos depois suicidou-se com medo de ficar pobre.

Aí Sidcley fez uma reportagem de capa comparando Chico Porcino a Nevaldo Rocha, da Guararapes.

Foi um sucesso a revista e no expediente ele colocava seu nome como responsável por todas as seções: editorial, fotografia, comercial, direção geral, circularão e artes.

Era a própria revista.

Conseguiu um “passe livre” pra viajar nos ônibus da Viação Nordeste Natal-Mossoró-Natal e transportar as revistas, depois de prontas.

Em troca dava uma página de publicidade na revista O Comércio.

Sidcley era muito “amarrado” e comia biscoito creme craque com guaraná pra não ter fome pra almoçar nem jantar todos os dias, mas gostava quando o convidavam.

Voltou a morar em Mossoró pra se dedicar mais ao “jornalismo” mas a empresa que editava a revista e a gráfica eram aqui.

Chegou a pedir ao dono da empresa de comunicação que deixasse ele ficar lá pra dormir e tomar banho pra não ter que ir pra hotel.

– Sidcley por que você não propõe uma permuta com o hotel?

– Não. Em Natal eu já tentei e não consegui. O pessoal aqui só quer dinheiro.

– E você queria o que?

– Que fosse mais “mão aberta”. As coisas estão muito varas.

– Por que você não almoça no Barriga Cheia? Come bem e é mais barato.

– De vez em quando eu vou, mas não gosto de entrar em fila.

Sidcley conheceu Francisquinha, açuense, simples com seus 35 anos ainda virgem e começaram a se paquerar.

Moça bonita, meia estatura, cabelos curtos caídos na testa e roupas simples.

– Não gosto de mulher que usa cabelo cobrindo a testa. Dá a impressão que tá escondendo alguma coisa.

– É uma questão de beleza.

– Outra coisa: também não gosto de tatuagem.

– Vots. Hoje em dia todo mundo usa tatuagem.

– Comigo não… Mulher com tatuagem eu perco o tesão.

Francisquinha e Sidcley se deram bem.

Cegaram a se casar no civil, em cerimônia coletiva, sem festa. Só um bolinho da moça com guaraná e os padrinhos.

Casaram mas continuaram morando em casas separadas, por uma questão de economia.

Não tiveram filhos pois eles só mantinham relações íntimas no período pré e pós menstrual: 5 dias antes e 5 dias depois. Nunca falhou.

– Eu não uso camisinha. É horrível.

Viveram muitos anos até Francisquinha morrer de infarto aos 60 anos. Jovem, ainda.

Encontrei Sidcley tomando sorvete na Tropical da Prudente de Morais e perguntei:

– Sid, em quem você se inspirou pra viver assim profissionalmente?

– Walt Disney.

 

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube

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