VIRAMUDO 73 –

Silvinha Sales era de Jucuruu, interior do Rio Grande do Norte. De porte mediano, magra, cabelos curtos, rebeldes (não penteava) pintados de cores mais parecidos com arco-íris chamava atenção por onde passava.

Conseguiu entrar na Universidade e lá encontrou uma turma meio doida, contestadora que lia Marx sem saber se ele era comunista ou socialista.

– Silvinha qual a diferença entre comunismo e socialismo?

– Sei lá. Acho que um e da direita e o outro, da esquerda.

O importante pra ela era a música. Tocava um violão amuado e cantava rock como ninguém.

Andava de calça jeans surrada, colada nas pernas magras, rasgada no joelho e o cinto era um cordão grosso, colorido sobrando na lateral.

Blusa indiana vermelha de manga comprida realçando o sutiã cobrindo os peitos pequenos.

Com uma tiara branca escrito “eu te amo” ela incomodava s galera Universitária.

– Esse “eu te amo” e pra quem?

– Jesus

E ali mesmo encerrava o papo.

Como era magérrima não despertava desejo em ninguém até que Ludmila, achou-a interessante e abordou com paixão.

– Sou sua fã, amiga. Vamos namorar?

– Vots. Não gosto de namorar mulher.

– Já namorou alguma?

– Não.

– Então, experimente.

Ludmila era baixinha, gorda, dos peitos grandes e muito alegre.

Foram passar um fim de mana em Galinhos e a coisa esquentou entre as duas amigas.

Arnaldo, um colega da faculdade estranhou aquela amizade e atacou.

– Vocês duas estão tendo um caso?

– Sim. Qual o problema?

– Nenhum. Apenas perguntei.

Silvinha tinha levado o violão e a noite, na beira da lagoa, foi tocar rock com Ludmila e logo juntou uma turminha para acompanhar.

Voltaram pra Natal no domingo a tarde com o amor entre as dia muito maus consolidado.

Na segunda feira Arnaldo contou pra todo mundo o romance das duas e Geraldinhho, baterista que uma vez acompanhou Silvinha no show da escola, curtia uma paixãozinha por ela.

– Silvinha e verdade que você tá com Ludmila

– Sim. Mas é passageiro.

– Poxa vida eu sou doido por você.

– Mas você nunca me falou. Ela chegou primeiro. Podemos chegar junto. Gosto de homem também.

E assim caminha a humanidade como no filme americano da década de 60.

Silvinha não era fiel e junto com sua musica alucinante entrava maconha, bebida e muito agito.

– Tô aqui é pra curtir a vida. A gente só vive uma vez.

– Aí é onde você se enganava. Tem as reencarnações.

– E o que tu entende disso?

– Sou espírita. Conheço a doutrina.

– Não me interessa esse assunto.

Num show na cidade de Açu Silvinha, Ludmila, Arnaldo e Geraldinho foram presos por firmarem maconha e fazer propaganda da droga e falando em pleno show “maconha livre”.

Pagaram fiança e foram embora.

Na Universidade a onda era vermelha.

A militância esquerdista, contestadora queria mais era “bagunçar o coreto” e estar contra tudo e contra todos.

– Silvinha você é da direita ou da esquerda?

– Que diabo e isso?

– Posicionamento político.

– Detesto política. Meu negócio e cantar.

E a vida segue. Ludmila, ciumenta, brigou com a amiga quando viu ela beijando na boca de Geraldinho no ensaio da banda.

– O que é isso?

– Beijo na boca nesse grande baterista.

Prestou não. O pau quebrou e Ludmila saiu chorando e disse que ia sair da faculdade e nunca mais queria vê-lá.

– Não tem problema. Cansei de você. Agora eu quero homem.

Silvinha e Geraldinho montaram uma bela banda de rock e escurssionavam nos fins de semana até que foram tocar no Rock in Rio.

Sucesso absoluto foram logo contratados por uma gravadora que os projetou nacionalmente.

Foram morar em São Paulo e daí pro mundo foi uma questão de tempo.

Tiveram 1 filho apenas mas valeu a pena.

O menino cresceu e aprendeu a tocar guitarra passando a fazer parte da banda.

Tudo era centrado em Silvinha.

Ela era a estrela e agora o grande nome nacional do Rock.

Fanzoca de Elvis Presley e dos Beatles adorava homenagear–los nos shows.

Morando em São Paulo, faz RN show pelo mundo a fora era em Jucurutu que ela passava férias.

Foi lá, numa dessas tardes de sábado que a encontrei ao lado de Geraldinho e Marquinho o filho guitarrista, tomando uma cervejinha com caranguejo no Bar do Luiz, perguntei a Silvi n há:

– Em quem você se inspirou na sua vida artística?

– Rita Lee.

 

 

 

Jaécio Carlos –  Produtor e apresentador dos programas Café da Tarde e Tribuna Livre, para Youtube.

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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