VERSÃO MODERNA DE CHAPEUZINHO VERMELHO (A VIDA COMO ELA É) –

 Chapeuzinho Vermelho era uma boa menina, minto. Chapeuzinho não era mais menina, era um mulherão, boa pra chuchu. Pois bem, Chapeuzinho Vermelho nasceu na cidade de Natal, nos tempos atuais, onde não se anda em praças, nem bosques com medo de ser assaltado, e pelas ruas também, ou melhor, em todo canto.

Vinha à pobre menina, já mulher, repito, (para não ser processado como pedófilo), andando pelas ruas esburacadas de Natal, calçadas irregulares, quando de repente para um possante Land Rover, o povo de Natal embora more em apartamentos ou apertamentos de 60 m² de área construída tem que andar de Land Rover, para mostrar que é o tal e pegar uma boquinha nos próximos governos. Voltando ao assunto, dirigia o veículo um moço conhecido por Lobo, que diz.

– Para onde a mocinha está indo uma hora destas (cinco horas da tarde, já é perigoso andar nas ruas de Natal, embora o Quartel de Polícia seja bem perto), não vê que é perigoso uma jovem andar sozinha neste horário pelas ruas de Petrópolis e Tirol?

– Olha seu Lobo, muito mais perigoso é andar pelos bairros Planalto, Vale Dourado, Nossa Senhora da Apresentação, Cidade Nova, onde se mata dois a três jovens por dia, a polícia inoperante, o sistema de transporte é precário, o sistema de ensino público falido, saúde pública inexiste, e aí, eu vou ter medo do quê? Ao contrário do senhor que tem esse carrão para desfilar na cidade. Eu vou à luta moço.

– Sim, mais a moça vai para onde?

– Pra casa da vovozinha?

– E onde ela mora?

– Sei lá moço! A vovozinha é sua, como vou saber a onde ela mora?

– Vem cá amor, não fica braba, entra aqui que eu te levo até o céu se preciso.

 – Ok seu Lobo, vou aceitar – entrando no veículo pergunta- Seu Lobo, o senhor tem os dentes grandes, pra que esses dentões?

– Aaaaaah, para de comer meu amor, minha linda donzela.

– Ah Lobo! Deixa de frescura, não sou donzela e se quer me comer, não vamos pela Via Costeira, porque lá estão assaltando direto, a coisa está tão perigosa que em vez de você me fd, podemos dar uma porrada naqueles meios – fios fugindo dos ladrões, e em vez de um, se fd os dois.

– É Chapeuzinho você tem razão, mas se fomos pela Av. Hermes o transito é caótico, principalmente ali no cruzamento com a Alexandrino, pela Prudente de Morais, os galhos das arvores cobrem os semáforos e a gente pode ser multada, pois a indústria das multas está em plena atividade.

– Por falar em galho, o senhor vai me dar quanto? Não vem com mixaria, pois estou com o plano de saúde atrasado, aluguel sem pagar, colégio do menino também, preciso ir ao ginecologista, dentista, tive que vender o meu fusca para pagar algumas dívidas e o puto do João não paga a pensão há muito tempo e ainda arranjou um namorico com a juíza.

– Olha Chapeuzinho, a minha situação também não é boa, sou funcionário público estadual, salário atrasado, moro em um apartamento de 60m², com a mulher e dois filhos, devo o condomínio há seis meses e três a Caixa, pois é financiado. Este Land Rover comprei para pagar em setenta e dois meses, não dei um tostão de entrada e também não paguei nada, devo três. Estou esperando o próximo governo para ver se consigo um cargo comissionado e tiro o pé da lama, pois isto vários amigos já fizeram e hoje são ricos.  Para completar, minha mulher compra no meu cartão de crédito o que não posso pagar, você entende não é?

– Olha seu Lobo, entender eu entendo, mas vou lhe dizer uma coisa; Quem dar aos pobres cria o filho sozinha. Pare o carro aqui que eu vou descer. Tchau.

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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