UM RELATO DA INFÂNCIA –

Será que esse relato interessa a alguém? Talvez aos que viveram problemas semelhantes, há 70 anos. Ou aos que gostam de saber das coisas de ontem. De vez em quando, me lembro de coisas do passado.E entre um sono e outro, lembrei-me hoje de um momento nos meus tempos de menino.

Nossa família era grande, mesmo numa época em que já começavam a diminuir de tamanho. Cinco homens ( comigo inclusive) e três mulheres. Nossa casa, a partir do começo dos anos 1940, era na rua Açu, pertinho da Hermes da Fonseca. Foi de lá que “participei” da II Guerra. Mas, minha estória de hoje não tem nada a ver com a guerra, e sim das complicações do cotidiano numa família grande.

A casa era grande, o nosso quarto era quase um alojamento militar. Cinco camas, de uma marca que, se não me engano, chamava-se Paulista, que você comprava pronta e apenas tinha que montar. Meus pais eram rígidos. Dormir no máximo às 9; acordar as 6; fazer a cama; tomar banho, café, etc., para chegar em tempo à escola – uns dez minutos de carro, numa época de pouco trânsito. Se você quisesse mais tempo, que se levantasse mais cedo.

O gargalo diário era o banheiro. No máximo, 10 minutos para o banho e demais necessidades. Para emergências, tínhamos um urinol debaixo da cama. Na porta do banheiro, único, como a maioria das casas daquele tempo, era uma novela. Havia outro banheiro, no quarto de meus pais, utilizados por eles e minhas três irmãs. Nós só o usávamos em casos extremos, para não criar o hábito.

No nosso banheiro, quando começavam a chegar os meninos, começava a ladainha do lado de fora da porta: deixa de demora, sai logo, estou apertado, e coisas assim. Isso por alguns anos, até que, numa reforma, meu pai construiu mais um banheiro. Foi a felicidade!

Como as coisas simples são úteis e importantes no nosso dia a dia. Tão importantes que me lembro até hoje.

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

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