UM OLHAR PARA A SAÚDE –

Nesses últimos cinquenta anos, a Medicina avançou e evoluiu muito, com resultados surpreendentes e vitoriosos para a saúde da população como um todo.

Infelizmente, esses avanços não têm atingido, não têm  chegado de maneira plena e global àqueles mais necessitados: a população mais pobre.

A nossa rede pública de saúde tem sido alvo perene desse desacerto, desse desequilíbrio, dessa desatenção.

O nosso Sistema Único de Saúde (SUS), muito propagado e elogiado; no papel, diz-se perfeito. Na prática, não consegue contemplar suas ações, sobrevivendo com orçamentos sempre bem aquém de suas necessidades básicas, subfinanciado e enfraquecido. Enquanto isso, o Fundo Partidário ( dinheiro para financiar a campanha eleitoral dos nossos abastados políticos) passa agora de 2 para 5.7 bilhões de reais. É pouco!? Que país é esse?

Segundo o ex-Secretário do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Jurandi Frutuoso Silva, o SUS retrata muito bem um sistema socialista dentro de uma conjuntura capitalista. Complicado, não?

Esse cenário já foi por demais mostrado e vivenciado na mídia nacional, com hospitais sucateados, fechamento de UTIs, as infindáveis filas para um simples atendimento; mutirões e mais mutirões para cirurgias eletivas, enfim, o caos instalado há muito tempo. Sobre cirurgias eletivas, estamos enfrentrando uma gigantesca fila de mais  treze mil sofredores, aguardando a sua vez para a realização do procedimento operatório. É inacreditável, inaceitável, cruel e desumano. Enquanto isso nossos representantes (nossas Excelências) se engalfinham e se “elogiam” em CPI que nos envergonham e nos entristecem mais e mais.

Com esse quadro desenhado, o que esperar com a chegada da famigerada pandemia chinesa? Não fomos pegos de surpresa, nem de calças arreadas, fomos atingidos completamente nus, sem condições de oferecer nenhuma resistência. O resultado não poderia ser outro; pagamos e ainda vamos pagar  por muito tempo por  esse erro crônico, imperdoável e cruel.

II

Ainda na mesma linha da saúde, um outro assunto merece reflexão: tem-se levantado e comentado em rodas de conversa, que o avanço da medicina tem de certo forma deixado os profissionais da saúde um tanto mais relaxado com relação a atenção ao paciente . Com isso, tem-se observado que a consulta tem tido seu tempo bem mais encurtado. A preocupação e a atenção maior fica voltada mais para a solicitação de exames complementares. O que não é nada bom, uma vez que os princípios básicos para um aceitável diagnóstico está na anamnese do paciente.

A anamnese (a entrevista com o paciente), na busca incessante de elementos clínicos (sinais e sintomas) para formatar um diagnóstico, está ficando para trás, infelizmente. O que foge totalmente da conduta correta do ensinamento médico, que reza: a clínica foi, é,  e sempre será “soberana”.

Assim, atrofia-se o raciocínio médico e hipertrofia-se e valoriza-se mais e mais os resultados dos exames complementares. Desse modo, o que fará o médico no futuro? Será um simples solicitante de exames? As máquinas serão as grandes protagonistas? O que podemos imaginar para o futuro? Um sofisticado programa, uma plataforma digital de última geração, na qual se alimentará com os dados clínicos e resultados laboratoriais do paciente e, que de pronto, emitirá o  diagnóstico e o  seu tratamento? Pelo andar da carruagem, não será impossível, nem filme de ficção.

Um diagnóstico correto deve ser baseado em dados clínicos robustos colhidos na anamnese, exame físico minucioso, alinhados a exames laboratoriais e de imagens confiáveis. Esse é o casamento perfeito que deve ser benzido e abençoado no juramento de Hipócrates.

III

Ainda surfando no mesmo tema, vem a proliferação anárquica de novas faculdades de medicina (ainda bem que deram um basta), sem a menor condição básica de funcionamento, jogando, duas vezes por ano, numerosos jovens médicos carentes de qualificação para assumirem um mercado de trabalho bastante competitivo. A residência médica, considerada padrão ouro de ensinamento prático na formação médica, não cresce na mesma proporção das escolas médicas, daí se tornarem cada vez mais difícil o seu acesso. O resultado final fica bem fácil de entender!

A saúde do nosso país precisa ser tratada com mais atenção e respeito. Vamos tirá-la do leito hospitalar antes que seja necessário uma vaga na UTI, com grande possibilidade de não consegui.

 

 

 

 

 

 

Berilo de Castro – Médico e Escritor,  [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

  1. Excelente reflexão sobre área vital para o bem estar da população brasileira e mundial. Infelizmente o progresso tecnológico e científico se não tiver um controle ético e moral, provocará danos irreversíveis ao Sistema de Saúde conforme destacado no texto. O mercado de trabalho está em xeque, daí o perigo da imposição de uma Nova Ordem Mundial restringindo direitos individuais e as soberanias nacionais. Segue o jogo.

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