UM HOMEM NU –

Sentado no alpendre de minha casa em Cotovelo, olhando o céu, conseguindo ver algumas estrelas penso; ainda me restam algumas e Graças a Deus não conseguiram tirá-las de mim. No presente, me sinto um homem nu, vendo meus direitos sendo corrompidos e com um poder de reação muito lento, pois na mocidade isto acontecia, mas com muito mais agilidade eu tinha poder de reação.

Estou com o salário de minha aposentaria sendo pago errado há mais de quatro anos, recebia corretamente há mais de quinze. Recorri à justiça e tive sentença favorável, corrigiram? Não, assim, caminha o povo brasileiro, esperas, pois devagar se vai ao longe. Passam, vinte, trinta anos, como um precatório que tenho há receber, já se vão mais de vinte e três anos, o pior quando fui receber parte desse precatório eu era o 800 da fila, pensei quando é que vou receber isto? E perguntei a um cidadão que trabalha no TJ, veio a resposta – logo. Dei um pequeno sorriso e estou esperando, para a minha felicidade sou hoje na fila o número 1000 e qualquer coisa, PASMÉM. O cidadão vendo os seus direitos corrompidos e se sentindo inoperante, sem poder para reagir. Neste momento lembro Rui Barbosa que no seu poema Sinto Vergonha de Mim diz! “Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra.”

Fiz parte de uma geração que lutou pela democracia, que lutou por um país melhor para os seus filhos, mas, tristemente vejo que quase tudo por que lutei, não se concretizou, onde o roubo e a bandalheira é exemplo para os mais jovens. Lembro de um conjunto musical chamado Legião Urbana que compôs uma música chamada- Que País é Esse e parte da letra diz “ Nas favelas, no Senado/Sujeira para todo lado/Ninguém respeita a Constituição/Mas todos acreditam no futuro da na nação…

Me sinto um homem nu naquilo que é mais sagrado, meus direitos civis. Na minha linguagem, sinto-me estuprado, desmoralizado pois já não posso reagir, mas mesmo assim feito uma tartaruga, embora sabendo que cada investida que dou é uma flechada que levo, tento, é questão de dignidade. Me espanta sensivelmente a ausência de sensatez e de dignidade no julgamento da verdade, incrível como a justiça se prostituiu e se desmoralizou perante a sociedade, talvez ainda exista homens de coragem para tirar aqueia venda dos seus olhos e de olhos bem abertos fique em pé, procure olhar e moralizar a nossa justiça, o nosso pais que precisa urgentemente de uma justiça e políticos coerentes, honestos e dignos.

Volto a olhar o céu, continuo a ver algumas estrelas, minha netinha que estuda medicina vem e se senta ao meu lado, lembro dos outros dois, um engenheiro recém-formado, a outra cursando direito, penso um pouco e me pergunto, se eles vão ter esse mesmo Brasil ou se a sua geração conseguirá diminuir a desigualdade social, fazer desse pais mais humano, em que haja respeito de brasileiro para brasileiro, e cantarmos a canção de Vandré. “ Somos todos iguais braços dados ou não. ”

 

 

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

As opiniões emitidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *