ADAUTO CARVALHO

Adauto José de Carvalho Filho*

Os recentes acontecimentos no cenário político brasileiro mostram a triste realidade de um Estado sem povo. Se o Estado é uma ficção jurídica, o povo é a ficção política do Estado. Não tem qualquer importância para os homens do poder, nem o poder tem homens com estatura moral suficiente para ser exemplo, em um aspecto que seja, para o povo que manipula e despreza. A cidadania é a mais banalizada e ultrajada das disposições constitucionais e não se apresenta nenhum poder ou poderosos para se fazer exemplo e, ao contrário, a mentira e o descaso são as respostas e o repetidos exemplos que habituaram o povo a nada ser ou ser nada nos interesses das corporações.

As condutas são desastrosas. Não existem quaisquer sentimentos de responsabilidade e honestidade, A inclusão ou não de uma determinada autoridade nos muitos escândalos que surgem e surgirão, é questão de loteamento. Os cargos públicos são loteados sem qualquer escrúpulo e os beneficiários dos lotes se confluem entre si com o único objetivo de tungar os cofres públicos. Vivemos, no século XXI, uma reedição das capitanias hereditárias naquilo que tinha de mais negativo: a submissão ao poder e a ambição pelo que o poder poderia trazer, dinheiro, dinheiro e dinheiro, que compra mais homens do poder e tornam a roubalheira e seus ladrões, uma grande organização criminosa.

O valor do homem público não está nos seus méritos, se é que algum tem ou sabe o sentido, mas na capacidade de se organizar para que o produto do roubo seja suficiente para comprar outras autoridades menos habilidosas e focam o tesouro nacional como a única meta nacional a ser atingida ou usurpada. E, sem qualquer pudor, a carga tributária escorraça o povo para que poucos satisfaçam seus instintos criminosos e suas ambições descabidas.

A mentira, talvez, seja o único aspecto comum aos nossos homens públicos. O presidente não é uma instituição nacional, um exemplo de cidadania, mas um mentiroso e farsante que se utiliza de discursos vazios e contrários aos atos praticados. É a ideologia reinante, se é que a mentira possa ser considerada ideologia. Quem mente, rouba: assim aprendi com os meus pais e, lamentável, o adágio se torna verdadeiro na grande mentira que é a República Federativa do Brasil e dos seus mandatários e subordinados, em todos os poderes, em todas as esferas. A mentira maior começa com o termo constitucional “federação” quando, em verdade, temos um ente que segrega 60% das receitas nacionais e, com a concentração, alberga todas as facções criminosas, que politicamente correto, chamam de partidos políticos; e dois entes, Estados e Municípios, que são entregues à própria sorte e pobreza, assim considerada a capacidade de promoção do vem comum. O Estado e o município de São Paulo são ricos, mas incapazes de conciliar os fundamentos do Estado e se igualam, em pobreza institucional, aos mais miseráveis Estados e Municípios brasileiros.

Quando nos grandes países a grande vergonha nacional se limita a pobreza, no Brasil é a riqueza, não que ser rico seja vergonhoso, mas enricar às custas da pobreza e da ignorância política da sociedade, mantida com os auspícios de um sistema educacional moldado para as mentiras institucionais de forma proposital e pensada. A Operação Lava Jato foi pródiga em mostrar o liame criminoso entras as autoridades públicas e as supostas grandes empresas nacional. As autoridades não precisam ser citadas, seria uma imperdoável repetição e, no campo privado, temos o pedagógico exemplo da Odebrecht, uma empresa de renome nacional, mantida com as mais escabrosas transações nacionais e internacionais. Neste mister, podemos relacionar a aceitação cômoda da corrupção com a pobreza e a a ignorância política. Insatisfeitos, as nossas autoridades correm o mundo da pobreza e do totalitarismo, que envergonha a maior parte do mundo, vendendo facilidade e recebendo gordas propinas, de países africanos ou camaradas como a Bolívia, Venezuela e Argentina. E não há limites assim como a impunidade é a garantia que tais autoridades podem agir inescrupulosamente desde que o produto do roubo retroalimente a “corja” que se apoderam dos cargos públicos e constroem suas riquezas pessoais e um fundão para manter tudo em completa harmonia.

Isoladamente, há tímidas reações de algumas autoridades que zelam por suas funções e tornam suas posições incômoda. O Juiz Moro e a “operação lava a jato” são os maiores exemplos. Um pequeno núcleo de inteligência, confronte de informações e bons propósitos republicanos, colocou todo o sistema de corrupção, que há décadas, séculos, saqueiam os cofres públicos, em cheque. As autoridades estão atônitas e, como criminosos, a covardia e o descaramento, a troco de uma pena menor, passa a ser motivação para uns delatarem os outros. Não tem dignidade nem como criminosos. Quando há qualquer reação todo ladrão se acovarda. Com os nossos ladrões de recursos públicos não é diferente, O Brasil vive um dos mais lamentáveis momentos de sua história, onde todas as autoridades estão envolvidas ou serão envolvidas em breve. O perigo reside no fato que o crime se organiza facilmente e assistimos as peças do xadrez republicano brasileiro, a se mexerem no sentido de dificultar o trabalho do Juiz Moro e, como protagonistas desse ardil criminoso, estão as principais autoridades dos poderes executivo, legislativo e judiciário. E, até o momento, um homem está fazendo a diferença e o povo, aos poucos ou desorganizadamente, começa a entender os desmandos que são feitos com os recursos públicos e, mais importante, de que não há recursos públicos. O roubo é o produto da cruel e desigual arrecadação nacional, amealhada pelos pesados tributos cobrados ou tomados sem piedade. Nada é dispensado. Não se pode ameaçar as bases da roubalheira nacional. O Brasileiro começa a entender que eles não roubam do pais, mas dos seus parcos recursos e que deveriam contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida e para a construção de um futuro melhor para os seus filhos.

O caso é tão grave que o país do futebol é o país da corrupção no futebol. A corrupção se aprimora. O futebol se apequena. O nosso maior craque, assim como nossas maiores autoridades, teve parte do seu patrimônio bloqueado e o FBI anuncia para o mundo que a copa no mundo no Brasil, a vexatória copa das copas, e seus investimentos milionários e inúteis, contribuiu para as eleições presidenciais. Como se dizia antigamente, passou uma bola, cuidado. Atrás dela pode vir uma criança ou uma autoridade. Os velhos e inocentes boleiros. Hoje a bola da corrupção é do tamanho do mundo e a de futebol volta aos bons jogos de várzeas.

* Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, escritor e Poeta.

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