RINALDO BARROS

(*) Rinaldo Barros

A conversa de hoje vai na direção de um tema recorrente nos noticiários nacionais: os sucessivos recordes de engarrafamentos e de acidentes do trânsito, nas metrópoles brasileiras.

O pecado original – o individualismo – respaldou a nossa (?) opção por rodovias e por transportes individuais, em detrimento das ferrovias e dos transportes de massa. Trata-se de uma aparente desinteligência.

Na verdade, o que se esconde por trás dessa burrice histórica – quem manda no pedaço – são os interesses poderosos dos conglomerados industriais ligados à produção de petróleo e derivados; montadoras de automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas; fábricas de pneus e autopeças; e construtoras e mantenedoras de rodovias.

São muitos bilhões de dólares que constituem os lucros extraordinários desses segmentos econômicos, os quais não estão nem um pouco interessados na construção de um futuro melhor para a nossa população.

São movidos pela ganância.

Todavia, tudo tem seu limite. Em São Paulo capital, por exemplo, já somam 7,6 milhões de veículos, com a entrada de milhares de novos carros, a cada mês. Ou seja, é impossível que 7,6 milhões de corpos sólidos ocupem espaços limitados fisicamente por arruamentos e acidentes geográficos.

É contra o Princípio da Impenetrabilidade da Matéria: “dois corpos distintos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço e ao mesmo tempo”. Um baita desafio à inteligência dos urbanistas e gestores.

Em que pese ser impensável, no curto prazo, uma mudança de tendência na utilização do transporte individual; todavia, é possível implantar soluções viáveis, no médio prazo.

Estamos falando de 1) reorganizar o espaço (e o tempo) de circulação na cidade, de forma a garantir prioridade no uso do sistema viário a pedestres, ciclistas e ao transporte público de massa e a melhorar a segurança na circulação e a qualidade ambiental; 2) criar restrições ao uso inadequado do automóvel particular, para garantir espaço adequado ao bom desempenho do transporte público, reduzir os acidentes e os impactos ambientais.

Na capital da terra de Poti, com quase 1 milhão de habitantes, cerca de 350 mil veículos particulares e apenas 646 ônibus, felizmente, ainda estamos muito longe do caos. E os transtornos do trânsito natalense se limitam (ainda) a questões relativamente fáceis de resolver, nada que uma ação de engenharia, ou de planejamento municipal, não resolva.

Sei que falar é fácil, e que é muito difícil consertar o avião com a aeronave em movimento, todavia, acredito ser possível conjugar esforços dos três níveis de governo, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada, na análise, proposição e aplicação de soluções baseadas em geoprocessamento de informações sobre circulação, parada e estacionamento de veículos.

Sem querer dar receita pronta para ninguém, ouso propor, para debate e estudos, o seguinte:

 Antes que se tornem realidade o VLT (veículo leve sobre trilhos), o Anel Metropolitano (já em execução, aplicando 72 milhões de reais do Protransporte, para interligar alguns municípios a partir da Ponte de Todos) e a conclusão do prolongamento da avenida Prudente de Morais; penso que é possível fazer fluir mais rapidamente o trânsito em Natal, adotando, no curto prazo, algumas medidas básicas. Anote.

1)      Proibição total de estacionamento nos dois lados das principais vias e corredores do tráfego urbano; 2) ampliar a fiscalização e a sinalização (para que seja eficaz) e fazer cumprir o Código de Trânsito Brasileiro; 3) adotar novo horário para o funcionamento do comércio (10h as 20h);  4) proibir o tráfego urbano de veículos pesados no período das 06h as 21h; 5) implantar planilha conjunta de custos e Tarifa Única para ônibus nas linhas de Natal e Parnamirim; 6) construir edifícios-garagem nos bairros mais populosos; 7) construir um Terminal de Cargas fora do perímetro urbano da capital; 8) realizar ampla e permanente Campanha Educativa, em favor da qualidade de vida em Natal e região, pela redução dos acidentes, tipo “gentileza gera gentileza”.

Oxalá seja possível também mudar alguns hábitos arraigados e herdados, com saudade, do tempo em que Natal era uma província onde se podia estacionar o carro na porta do local de trabalho. Do tempo em que o perímetro urbano de Natal terminava na “corrente”, situada no final da “pista”; onde hoje fica o Midway.

Tempo saudoso, mas que não volta mais.

(*) Rinaldo Barros é professor – [email protected]

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