TEMPOS MODERNOS –

Os tempos mudaram e a modernidade impera em todos os segmentos da sociedade: Político, religioso, social e familiar.
Mudaram, a começar pela liberdade que hoje a mulher desfruta, de poder estudar, votar, trabalhar e ser gente, sem ser mais qualificada profissionalmente como “do lar” ou “de prendas domésticas.” Essa qualificação significava que a mulher era a “administradora” da casa e da família, uma subalterna, que dependia do marido ou do pai, para comer, vestir e, finalmente, para viver. Não tocava no dinheiro deles.
Em Nova-Cruz (RN),  pequena cidade do interior nordestino,  onde nasci e me criei, estudei no Colégio Nossa Senhora do Carmo, da ordem Franciscana, onde se fazia uma oração antes de começarem as aulas, e se rezava o terço, diariamente, no mês de maio. O Colégio também ensinava civilidade, e o Hino Nacional era cantado todas as sextas- feiras, por freiras e alunos, havendo o hasteamento da Bandeira.
O colégio exigia farda completa e limpa, e sapato colegial preto, com meias brancas.
Só oferecia até o Curso Ginasial. Quem quisesse continuar os estudos teria que estudar na capital, o que nem todas as famílias podiam, financeiramente, oferecer aos filhos.
A mulher, nos tempos modernos, também é eleitora e pode participar do processo eleitoral como candidata, chegando até aos mais altos escalões do serviço público. Ela já chegou à presidência da República e aos ministérios, sem se privar de ser companheira do homem nem da convivência com os filhos, e sem abrir mão do sublime direito de ser mãe.
Hoje, a mulher estuda, se forma, trabalha no serviço público ou privado, faz mestrado e doutorado e outros cursos, dentro ou fora do País, se assim quiser e puder.
A mulher pode estar hoje onde ela bem quiser e fizer por merecer.
Casa e se separa se quiser, sem ser hostilizada ou discriminada, como décadas atrás acontecia. Se bem que o respeito entre o casal é condição “sine qua non”, para que as uniões sejam preservadas.
Desde o tempo de Cristo, a mulher sempre foi uma sofredora.
Ainda bem que a figura bíblica da adúltera não existe mais. Não é mais condenada à morte, em caso de adultério, por apedrejamento, como nos primórdios.
E foi o próprio Cristo que absolveu a mulher adúltera. Essa figura, bíblica ou profana, hoje não existe mais. Quem for justo, que atire a primeira pedra em quem pecou.
Recordando o sofrimento da mulher em épocas remotas.
(João, VIII, 112)

“Numa tarde, regressava Jesus do monte das Oliveiras, quando, em meio do caminho, com o sol a esconder-se ao longe, no leito de fogo das montanhas, foi rodeado por um pequeno grupo de fariseus, que traziam de rastros, pálida e desgrenhada, uma pobre mulher que se debatia entre eles. Supondo confundir o rabino com a sua consulta inesperada, um escriba, de nome Baraquias, adiantou-se dois passos e pediu, com fingida humildade:

-Mestre, esta mulher foi surpreendida a trair o esposo, a quem jurara fidelidade. A lei de Moisés determina que ela seja apedrejada,  e morta pela multidão. Que devemos fazer?

Jesus, que lhe ouvira o coração antes de lhe escutar a palavra, baixou-se na areia da estrada, e pôs-se, com o dedo, a escrever.

-Mestre – tornou o fariseu, – esta mulher foi apanhada em flagrante, traindo o seu esposo. Devemos matá-la à pedrada, como estabelece a lei de Moisés?

Jesus, em silêncio, continuava a escrever sobre a areia, quando, de repente, erguendo-se, respondeu:

-Só o justo pode punir o pecador. Aquele, pois, que, dentre vós, nunca pecou, atire a primeira pedra!

A estas palavras, Baraquias desapareceu, e, com ele, um a um, aqueles que o acompanhavam, ficando no caminho, apenas Jesus e a pecadora.
Agradecida e assustada, ia a mísera mulher atirar-se de joelhos para beijar as sandálias do Mestre, quando o Rabino a deteve pelos braços, dizendo-lhe, severo:

-Nada me deves, mulher. Em verdade te digo, que as leis de meu Pai são mais implacáveis do que as leis de Moisés. Poupei-te a vida porque a própria morte não puniria a tua falta!

E, repelindo-a com a mão, suavemente:

-Anda; vai! A vergonha do teu crime, na tua velhice, será, na terra, o teu castigo.

E, baixando os olhos, continuou, sozinho, a caminho de Jerusalém.”

Pois bem. Nos dias de hoje, assistimos na mídia, a tentativa diária da destruição física e moral de homens e mulheres, praticada por vermes humanos que destilam ódio no coração, e cujo passado nebuloso esconde  tenebrosos  pecados morais e políticos que já cometeram, sem que tenham ainda acertado contas, definitivamente, com a justiça. Esses vermes querem ser mais rei do que a majestade, como diz o ditado popular.
 
Themis, a divindade grega por meio da qual a justiça é definida, no sentido moral, como o sentimento da verdade, da equidade e da humanidade colocado acima das paixões humanas, esta mulher de olhos vendados e com uma balança na mão, nos tempos modernos enxerga o que bem quer, e usa dois pesos, duas medidas. Sente-se mais importante do que o próprio Jesus Cristo.  
Lamentavelmente, nos tempos modernos, o sentido da venda nos olhos de Themis e da balança que ela traz em uma das mãos foi desrespeitado.

“Dois pesos e duas medidas” é uma expressão popular, de origem bíblica, utilizada para indicar um ato injusto e desonesto, algo feito de forma parcial.

Está relacionada com situações iguais, mas tratadas de formas completamente diferentes,  e seguindo critérios também diferentes, à mercê da vontade das pessoas que as executam.

No entanto, a expressão oficial é “dois pesos e duas medidas”, registrada inicialmente na bíblia sagrada, no livro de Deuteronômio (25:13-16), que deu origem ao uso da expressão:

“Não carregueis convosco dois pesos, um pesado e o outro leve, nem tenhais à mão duas medidas, uma longa e uma curta. Usai apenas um peso, um peso honesto e franco, e uma medida, uma medida honesta e franca, para que vivais longamente na terra que Deus vosso Senhor vos deu. Pesos desonestos e medidas desonestas são uma abominação para Deus vosso Senhor. (Bíblia, Deuteronômio 25:13-16)Esta expressão é uma referência ao antigo sistema de medidas e pesagens, quando ainda não existia um método definitivo que padronizasse os pesos. Assim, cada pesagem e medida era feita de forma desigual, instituindo um roubo generalizado.”

Claro que, no âmbito jurídico, o ditado “dois pesos e duas medidas” não deveria  ser aplicado.
Teoricamente, todos os cidadãos devem ser tratados da mesma forma perante a justiça. Acontece que, “na prática, a teoria é outra.”
Violante Pimentel – Escritora
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