SOBRAS DO CARNAVAL –

Clarice Lispector em seu ensaio ‘Restos do Carnaval’ cita: “Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco”.

Mas aqui, quero relembrar uma personagem do carnaval – a Colombina, que juntamente com o Pierrô e o Arlequim se tornaram muito populares na Itália do século 16.

São personagens integrantes de uma trama cheia de sátira social onde representam serviçais envolvidos em um triângulo amoroso: Pierrô ama Colombina, que ama Arlequim, que, também, deseja Colombina.

Por sua vez o escritor, poeta e amigo Alfredo Neves, editor da Revista Digital Kukukaya, me enviou recentemente um poema intitulado “Carnaval em Pirangi” que assim se expressa em relação a sua Colombina:

“Ando aonde o frevo se encerra, / E o corpo vai morto / Como um errante silencioso. / Mas a tarde / Ainda não está morta, / Nem tão pouco perdida, / Ela está procurando / A colombina / Que passou sorrindo / De compaixão.”

Como a tal colombina que “passou sorrindo de compaixão” e sabendo que a tarde ainda não estava morta nem perdida, procurei imaginar, agora, a minha colombina e assim respondi ao dileto amigo:

E entre um sopro e uma voz / Carrego comigo o sabor / Da meiga doçura do teu amor./ O carnaval foi passando devagar / Porem teu corpo não diminuía o balançar. / Já não sabia que fim teria / A não ser que ao último som / A colombina passaria sorrindo / Pois tudo foi muito bom.

Pelo visto cada um tem a sua colombina, porém essa e aquela, na essência, tão belas e refinadas que despertaram sentimentos do amor platônico.

Seremos ‘Pierrot’ que suspira pelos cantos e escreve poemas de amor que nunca entrega para Colombina?

Ou apenas, sobras do carnaval?

 

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

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