SE SUICIDA, VAI! – 

Chocado com o título? Foi isso que me ocorreu. Foi um choque para mim quando escutei uma adolescente gritando para outro:

– Se suicida, vai. Quero que você morra.

Depois virou e disse:

– Mentira! Te amo!

E saiu rindo, como se tivessem dividido um chocolate.

Foi pura banalidade, um diálogo incipiente, sem profundidade! Será que foi mesmo banal? Será que não deixou marcas?

Fiquei olhando para os dois e pensando no impacto disso tudo.

Palavras soltas ao vento? Elas realmente ficam soltas? Ou se apegam num cantinho nosso e reverberam por longas datas mesmo quando não tivermos consciência delas?

Elas podem encontrar eco? E se encontrarem? Terão consequências?

Entrei no carro com aquelas palavras martelando em mim. Encheram-me de uma tristeza genuína. Pensei na fragilidade que somos. Tão fortes por fora. Tão corajosos por fora. Apenas farsa?

Acho que sim. Acho que por dentro somos frágeis, sensíveis, medrosos. Temos medo de não sermos aceitos, medo do outro, de como o outro nos vê. Temos medo de viver. E a vida nos cobra coragem e a coragem nos é dada pelos laços que formamos, por pessoas que nos estimulam a acreditar em nós mesmos.

Por isso me questiono o que estas palavras são capazes de fazer! O que estas palavras fizeram a este adolescente?

Em um mês cheio de reflexões sobre o suicídio, onde se fala de prevenção, de acolhimento, de valorização da vida, acho que estamos falhando como sociedade quando vemos um adolescente banalizar frases como essa.

Espero que elas não tenham encontrado eco… Espero que a gente, como pais e mães, como amigos e como simplesmente pessoas consigamos tornar frases assim esquecidas no baú do desuso e substituí-las por carinho, afeto, dedicação, amor, valorização. Valorização da vida!

Porque se vive todos os dias, mas se morre apenas uma vez e que não seja por situações como essa…

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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