ANA LUIZA

Ana Luíza Rabelo Spencer

Se correr o bicho pega…

…se ficar o bicho come.

Todos já atravessamos momentos onde este ditado popular foi necessário. Se corrermos, se fugirmos, perdemos tudo, deixamos para trás uma vida, lembranças, momentos que, mesmo que ficássemos, jamais seriam repetidos. Deixaríamos cada livro, cada foto, cada nota. A carreira se faz sem bagagem, lenço e apenas documentos.

Se ficarmos, o bicho pega. O bicho chamado tempo come, destrói cada sonho, cada palavra, cada pensamento, mas, talvez na carreira, encontremos algo, possamos reconstruir, começar do zero. Tabula rasa. O que ficou para trás se perdeu, mas o que é possível encontrar tão distante, tão adiante, que os olhos se perdem além da linha do horizonte?

Cada decisão a ser tomada deve ser pesada, medida e contada. Cada uma delas traz dor, incertezas e, talvez, até mesmo redenção.

O que nos faz ficar? O que nos faz correr? Ambas envolvem esperança, coragem e fé. Ambas nos trazem medo, incertezas, atribulações e providências.

Imagine colocar sua vida inteira em uma mochila, escolher cada pedaço da criatura que vamos ser. Imagine carregar sua vida inteira nas costas. Temer cada decisão faz parte do processo de escolha.

Para que lado pender? Para que força ceder? Ambos podem nos levar ao céu ou à ruína. Ambos trazem consigo sanidade e demência.

Mas se tudo o que fizermos nos leva a parecidos resultados, como escolher? A insegurança do conhecido, a esperança da nova jornada, qual é a resposta certa? Particularmente, acredito que não há assertivas para esta questão. Só precisamos escolher a mochila que nos pesa menos, que podemos carregar, ficando ou correndo. Tudo depende do quanto de fé se coloca em cada decisão.

Não há mudanças entre o sol que nasce no Ocidente ou no Oriente; todo caminho é tortuoso para quem quer se encontrar. O que dificulta as decisões são os itens que ficam de fora da mochila. Cada um deles brilha de forma incandescente e confunde e discerne.

Cada passo adiante é um passo para trás, para o que se deixa para trás. Cada traço de inércia também é um pouco de passo, porque a vida anda, o tempo voa, as vontades mudam.

A decisão tomada é única, particular e, uma vez posta em movimento, é difícil alterá-la.

Todos temos livre-arbítrio, todos temos lágrimas, saudades, desejos. Só observar o horizonte não nos leva a lugar nenhum. O farol continua parado apenas para que saibamos de onde viemos e se vamos voltar.

Quando se chega a esse ponto do dilema, já sabemos que partimos e o lume do farol fica cada vez menor, ao mesmo tempo que fica cada vez mais importante não o perder de vista. O fato é que iremos. Estando muito perto, somos cegados por sua luz; estando muito longe, o confundimos com tantas outras luzes.

Assim é a vida, assim são nossas escolhas. Se você já sabe o que quer, faça. Se não sabe, faça assim mesmo, pois o mundo gira e, mesmo quando largamos nossos fardos, voltamos a encará-los em breve.

Ana Luíza Rabelo Spencer, advogada ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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