SAÚDE E PRECONCEITO –

Dizem que a mulher é sexo frágil, porém, eu duvido que o homem tenha a capacidade de suportar tanta dor quanto ela. A começar pela dor do parto. Admiro a coragem com a qual elas se submetem a baterias periódicas de exames em prol da manutenção da saúde plena. A todos os testes, gostando ou não, elas os enfrentam com determinação e garra.

Um exemplo é a mamografia. Com a finalidade de analisar visualmente o tecido mamário à procura de nódulos cancerosos, elas aceitam que lhes comprimam os seios numa prensa, suportando estoicamente dores e desconfortos. E o que dizer da coleta de material para o exame citopatológico do colo do útero, o infame Papanicolau?

Por maior que seja o pudor, a vergonha ou o receio que as consumam, as mulheres, a eles se submetem na busca de uma vida saudável. Um dos motivos, suponho, seja o fato de se preocuparem com as próprias famílias, antes de pensaram em si mesmas. Contrair doenças graves as apavoram. Não por receio da morte, mas, pelo temor de verem desestruturados seus lares, caso sejam acometidas por tais males. Daí tanta responsabilidade de manter intata a saúde.

Voltemos, agora, os holofotes para nós homens. Conosco a história é diferente. Descaso, receio, vergonha e preconceito integram o arsenal de mecanismos de defesa que nos ajudam a fugir de qualquer exame clínico, invasivo ou não, para localizar alguma mazela que nos aflija.

Querem um exemplo? Pois lá vai o mais temido de todos: o toque retal nas profundezas do ânus para identificar a possibilidade de câncer de próstata. O dito exame é a vergonha das vergonhas. Uma agressão, um acinte, uma invasão ao recanto guardião da honra imaculada tão preservada e exaltada pelo macho.

Não foi à toa que seu Amaro – um modesto servidor público, meu colega de repartição – preferiu chupar o supositório em vez de enfiá-lo fiofó adentro. E quando eu o orientei sobre como executar o procedimento correto, ele retrucou dizendo: “Doutor, aqui por baixo nem formiga entra!”.

Vasectomia? Hoje afirma-se com alguma segurança que essa cirurgia deixou de ser um tabu. Mas, num passado não tão distante, era improvável o homem pensar em planejamento familiar através desse método contraceptivo. É claro que a responsabilidade caberia a mulher mediante ligadura de trompas, procedimento esse, mais invasivo e arriscado do que buscar a infertilidade com a vasectomia.

Enfim, chegamos a colonoscopia – Ah, aquele bendito dedo à procura da próstata! O tal exame, que aparenta ser um teste de penetração quilométrica, permite a análise das paredes do reto, cólon e parte do íleo terminal, por intermédio de um tubo flexível introduzido via ânus. Durante o procedimento injetam ar para melhorar a visualização, o que causa cólicas após o procedimento um tanto quanto deprimente.

Já ouvi marmanjo garantindo que prefere abrir a titela para implantar pontes de safena do que se submeter à colonoscopia. A verdade é que, por temor ou preconceito, estamos mais susceptíveis a contrairmos doenças letais porque não nos subjugamos a exames indispensáveis quando no momento e hora devidos.

A fraqueza da mulher, perante a dor, somente supera a do homem, diante da morte de um filho ou ente querido, ou quando sente o coração rachar de desilusão, ante a decepção causada por um amor devotado não correspondido à altura.

Dei ou não o recado, gente?

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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