SABE QUEM MORREU? –

Os últimos doze meses podem ser considerados como atípicos, pontos fora da curva, se comparado com outros que se sucederam.

Ultimamente, vivemos prometendo a nós mesmos que o amanhã será diferente, mas quase sempre o dia seguinte tem sido uma repetição do hoje, fortalecendo a tristeza e com ela, muitas vezes a decepção.

Guardados dentro de nossas casas, ou em contato com pessoas mais próximas temos tentado exercitar a prática da socialização, buscando trocar informações, oferecendo notícias fresquinhas na hora, na expectativa de estarmos atualizados.

Por incrível possa parecer, nesse último ano, a frase mais escutada por todos foi: “sabe quem morreu?”

Normalmente as pessoas falecem, mas não em tamanha quantidade e tão próximas a nós; seres humanos junto com os quais, vivemos, sorrimos, conversamos, brincamos, viajamos, de uma hora para outra simplesmente morreram.

Lembro, na minha infância, mortes em abundância somente em filmes de bang-bang, atualmente virou clichê, rotina, passou a ser o novo normal.

Recordo, anos atrás, a morte de alguém nos deixava muito abatidos; nos últimos tempos, parece havermos nos acostumados com a overdose de enterros, e para lembrarmos dos que partiram, devemos fazer uso de uma cadernetinha para anotação.

Anteriormente, pessoas morriam mas não eram tão próximas. Hoje raro é o cidadão que não possui parente falecido recentemente, sendo motivo para que outros refaçam o questionamento: “sabe quem morreu?”

Mas uma coisa é certa, desde o final de ano passado, quando os corações se preparavam para reviver o nascimento de Jesus, uma segunda onda da pandemia, ou melhor a continuação da primeira, se anunciou e o povo parece não acreditar.

Se no início de dois mil e vinte, o medo do desconhecido fortalecia o distanciamento social, como uma alternativa à sobrevivência, hoje, as pessoas esqueceram de tudo. Muitas negligenciam o uso de máscaras, se aproximando perigosamente dos seus semelhantes. Negligenciando possivelmente ser ela própria, de uma hora para outra a resposta para a pergunta: “sabe quem morreu?”

Estamos sonhando com um novo tempo, mas para que tal aconteça é fundamental enterrarmos de uma vez por todas a época sombria das mortes em abundância.

Para tal acontecer, é importante saber cuidar da imagem que deixamos por onde passamos; das lembranças que conseguimos gravar no subconsciente das pessoas.

O homem não foi feito para ser uma simples estatística de morte, embora um dia isso irreversivelmente deverá acontecer, pois ele tem tudo para ser o símbolo de alegria, da bondade, da esperança e nunca uma resposta para o questionamento: “sabe quem morreu?”

Que consigamos sobreviver, sendo a nossa marca de vida, o jubilo e contentamento.

 

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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