REMINISCÊNCIAS –

Nesses últimos dias venho me lembrando muito de meu avô, Graciano Mello, de quem fui muito ligado. Nasceu em 1876 e faleceu em 1950, com 74 anos. Minha avó, Emília, também era uma pessoa muito querida. Faleceu com 100 anos.

Meu avô era de Campo Grande e veio para Natal trazido por um primo, Francisco Cascudo, pai de Luiz da Câmara Cascudo. Dedicou-se a atividades diversas, com o apoio do primo, e depois abriu seu próprio negócio, uma loja de armarinho, mas com muitos outros artigos, na esquina de Vigário Bartolomeu com a Ulisses Caldas.

Minha avó, Emília Pinheiro de Mello, conheceu meu avô na casa de Francisco Cascudo e ela conta: conheci Mello na casa de Cascudo. A primeira roupa que Luiz vestiu, depois que saiu dos cueiros, foi eu quem costurou. Namorei com ele durante cinco anos e nunca passou nem na calçada lá de casa. Uma vez passou por perto e ficou tão impressionado quando me viu que deixou cair a bengala. Casaram em 1904, e tiveram como padrinhos, no civil, o Senador Pedro Velho e Fabrício Pedrosa Filho; no religioso, Capitão José Januário e Tenente-Coronel Francisco Cascudo. Em 1906 nasceu minha mãe, Nicênia.

Depois dessas lembranças, volto a falar de meu relacionamento com meus avós maternos (não conheci os paternos). Tinha por hábito ir para a casa deles no fim de semana. Devia ter uns 8/10 anos. Gostava muito de ir para lá. Ficava até a hora da escola na segunda.

Meu avô era uma grande figura e me dava um tratamento vip. Sábado pela manhã, me acordava as 5:30 para irmos ao mercado (o que pegou fogo e onde hoje é o BB). Fazia as compras todos os dias. Não havia refrigerador para guardar a comida e a solução era ir ao mercado. Já tinha fornecedores amigos e quando chegava faziam uma festa. Sempre comprava uma quarta de queijo de coalho, para o café da manhã. No café, cortava o queijo em pedacinhos pequenos e dizia: é para dar para todos. Ele não era “amarrado”, mas muito econômico. Às vezes, ia para a loja com ele e me dava mil réis. Minha avó também me tratava muito bem. Era o primeiro neto e isso me dava certas regalias.

Como todas as famílias católicas naquele tempo, eram muito religiosos. Morava perto da Praça João Maria, que por sinal conheceram, e a Matriz era muito perto. Vovó tinha um irmão padre, Monsenhor José Calazans Pinheiro. Por sinal, uma grande figura, um padre moderno para aquela época e que me ensinou francês. Dizem que, quando jovem, gostava de uma festinha e era um bom dançarino. A família de vovó era grande, vários irmãos e irmãs. Eu só conheci o padre e quatro irmãs solteironas.

Gosto de me lembrar desse tempo. Uma Natal tranquila, sem assaltos ou sobressaltos, e onde se tinha uma vida sossegada. Só um exemplo. Na casa de meu avô, o leite era deixado na porta e o pão pendurado na maçaneta e, até onde sei, nunca foi roubado. Voltarei a comentar mais estória desse tempo.

 

 

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

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