VALÉRIO MESQUITA 1

Valério Mesquita

Tive uma grande emoção quando assisti pela televisão dezenas de médicos brasileiros atravessando o rio Amazonas para socorrerem aldeias indígenas. Crianças, idosos, índios que nunca receberam cuidados médicos eram cirurgiados de cataratas, submetidos à exames diversos e clinicados devidamente. Seres humanos, finalmente, visitados, enxergados pelo governo federal. Era a Amazônia que sempre sofreu o passivo e grande silêncio do abandono, de vidas submersas nas margens, isolada na sua grandeza, estava ali redescoberta. Deduzi que um sol nascia, mesmo à noite, para todos nós. O poder central, por fim, havia despertado do escuro planaltino, naquele momento lindo de humanidade, de mansidão, de surpreendente revelação do Divino, no comando administrativo do país.

Era um louvor, sobretudo, à criatura humana. Os demônios ociosos e ciosos haviam perdido a guerra das falsas prioridades administrativas e políticas. Compreendi que em mim se estampara a emoção de patriota, louvando a glória da vida e do Brasil, em favor dos pobres, dos simples e dos esquecidos. Por um momento refleti a palavra de Jesus, em Mateus 11.28 a 30, pela boca da nossa presidenta que havia mudado de rumo e de prumo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei; Tomai sobre vós o meu julgo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração: e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu julgo é suave e o meu fardo é leve”. Como se conclui, patenteia-se de que é no investimento do governo na saúde, na educação, no trabalho, na habitação, na pobreza que se irradiam os elementos mais expressivos da dignidade humana.

O homem enraivecido, irado, hoje, já desceu à pior animalidade. Não há mais como chegar a lugar nenhum. O vandalismo das ruas, o tráfico de drogas, a corrupção no comportamento político, estão conduzindo o país à anarquia. Para um Papa que chega ao Brasil em missão de amor e paz, a mobilização para a sua segurança pessoal envolve até as Forças Armadas. Não porque ele é tido como um chefe de estado. O fato é que o Brasil não se apresenta para o mundo como um país seguro. Impera a criminalidade, a descrença nos valores políticos e jurídicos. Do Papa Francisco I para cá, o mundo deu um tombo. Vertiginosamente o comportamento humano degradou-se, a tal ponto, que as páginas da Bíblia, hoje, somente são folheadas no Livro do Apocalipse. Quais seriam as causas? A superpopulação, a desagregação social, a formação de castas, onde as riquezas estão concentradas para escárnio dos mais pobres, ou são vândalos mascarados que conseguiram a faceta de mistificar as democráticas manifestações das ruas?

Que a presidente atente para o reavivamento social. Não é a classe média que quebra as vidraças. O incêndio vem do povaréu. Drene menos dinheiro para as obras eleitoreiras visando 2016. A visão social das igrejas em favor dos mais pobres tem raízes cristãs pacificadoras ante as turbulências dos últimos dias. Não acredito no congresso brasileiro. Não sugere nada que resista a um boletim de ocorrência. Posiciono-me, de novo, diante da legião de médicos, chegando agora à Amazônia, depois ao Nordeste, às regiões onde vidas são ceifadas. Volto a pensar que a esperança está no renovo do social, restituindo ao homem a consciência de que a vida é missão e não ambição. E que reavivamento social não é esmola.

Valério Mesquita – Escritor – [email protected]

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