AB DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes Da Cunha Lima

“Pai Nosso que estais no céu…” (Mt 6-9, da única oração ensinada por Jesus).

Há uma hierarquia do amor, da dedicação, da honra.  Nas relações pessoais, primeiro há que se dedicar à família, pais e filhos, irmãos, parentes; depois aos amigos, a sua comunidade; à Cidade, ao Estado, ao País.  Só depois de honrar estes, você pode dedicar-se à humanidade.

O amor da família é a mais conseqüente das virtudes sociais.   Se as famílias são felizes,  existe a felicidade pública.  “Quem é bom em família, é também bom cidadão” é a velha lição de Sófocles.

Honrar pai e mãe não é apenas, em uma necessidade, dar remédio, casa, comida e roupa lavada.  É demonstrar deferência, bondade, carinho, integridade no ser.

Quando penso em minha mãe,  desenho uma flor em minha alma, vejo pássaros fazendo curvas no espaço, tocam distantes sinos da lembrança.  Um anjo familiar me diz se o que estou fazendo é certo.  Em palavras sentidas, tenho saudade de mim.

Com a mãe a relação existe, começa pela vida em comum, há simbiose.  A relação com o pai tem significância construída.  Por nove meses, fazemos parte de nossa mãe, de nossa mãe é também o nosso primeiro alimento.  É verdade que as mães e pais adotivos são tão verdadeiros quanto os biológicos.  Alguns são até mesmo mais intensamente pais, porque têm filhos da opção do amor, filhos do coração.

O meu pai dizia que tinha o dever de nos dar educação, manutenção e carinho.  Manter e educar até a maioridade, carinho pela vida inteira.  Era ensinamento e uma forma de valorização do espírito sobre bens materiais.  O olhar azul do meu pai nos comandava.  Significava aprovação e desaprovação, atenção e ordem. Obedecíamos ao seu olho.  Diferentemente dos olhos de minha mãe, que sempre me fazem lembrar um verso de Alphonsus de Guimaraens olhos sacramentais, olhos benditos.

Os valores familiares estão mudando.  Havia no Brasil, principalmente no Nordeste, muitos sinais de respeito.   O tratamento de senhor e senhora, em nome da cordialidade, mudou-se em você.  Sentávamos à mesa e tomávamos a refeição depois do pai sentar e iniciar a comer. Ninguém fumava na frente do pai, nem interrompia conversa dos maiores, passando pelo meio.  Mentir aos pais era pecado com agravante.  Modulava-se a voz para falar com os pais. Através dele, tomávamos e recebíamos a benção divina.

No catecismo aprendemos que Nossa Senhora é a mãe do céu.

Maria é palavra originaria do egípcio mariē que quer dizer a amada.  Ela foi mãe, (e mãe de Deus!) representa todas as mulheres mães.  Será esta a razão pela qual as marias são tão amadas?

No antigo direito hebreu, havia o privilégio de herança do primeiro filho.  A mulher só herdava se não tivesse irmão.  Hoje, herdam todos igualmente.  No Brasil a herança de bens materiais, muitas vezes, serve para dividir a família.  Enquanto que a herança espiritual – afeição, carinho e amor – une a família.

Van Gogh disse “quando sinto uma terrível necessidade de religião, saio de noite para pintar as estrelas.” Por ser verdade, faço a paródia: quando sinto uma terrível necessidade de ter meu pai ou minha mãe, saio de noite para olhar as estrelas.

Infelizmente, é verdadeira e simples a constatação do ditado popular: mãe, a gente só tem uma…

 Diógenes Da Cunha Lima – Escritor, presidente da Academia Norte-riograndense de Letras

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