VALÉRIO MESQUITA 1

Valério Mesquita

Eu me lembro, eu me lembro das antiguidades como forma de renascer o espírito adormecido em todos nós. Não adianta enfrentar somente e sozinho o mundo novo das descobertas tecnológicas. É preciso, sempre que possível, retroceder ao tempo do Melhoral, da Emulsão de Scott, do sal de frutas Eno e do Calcigenol Irradiado. Ah, o perfume do sabonete Ross no corpo úmido da namorada antiga. Aquele sorriso emoldurado pelo batom Colgate e o brilho nos dentes da pasta Odol. Como eram mágicos aqueles dias do óleo Glostora, da pasta Colype e da brilhantina Coty. Não precisava de Saridon nem Instantina para dor de cabeça. Vivia-se forte com o Biotônico Fontoura e as pílulas de vida do Dr. Ross.

Eu me lembro, eu me lembro que tudo aquilo era um estágio esplêndido de ilusória felicidade. Como era gostoso o Vinho Reconstituinte Silva Araújo. E o jingle: “A dor logo passa quando se passa Gelol”. Na cozinha, a Cônsul a querosene, e na sala, o rádio a bateria faziam “reclame” do sabonete Eucalol patrocinador do programa “Balança Mas Não Cai”, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, e do programa de auditório do César de Alencar. Ah, os anos cinqüenta das novelas “O Direito de Nascer” e “O Vento Levou…” e a propaganda da cera Parquetina, a “amiga da Etelvina”. Que alegre retorno aos faroestes de Gene Authry, Roy Rogers, John McBrow, Durango Kid, Buck Jones, Hopalong Cassidy, Tom Mix ou os seriados do Capitão América, Batman e Robin, A Mulher Tigre ou a Deusa de Joba.

Em busca do tempo perdido me envolvo na fumaça da Souza Cruz, dos Cigarros Continental, Astória, Lincoln e os mais baratos Asa, Iolanda, além do charuto Valquíria. Um mundo velho de memória olfativa, vai, cada vez mais, me conduzindo às ternas lembranças do almanaque Capivarol ou o da Saúde da Mulher que recomendava o Regulador Xavier: número 1, excesso e número 2, escassez, para aqueles dias do sexo frágil. Relembro as aguardentes Dois Tombos e Olho D’água e os não menos famosos Ron Merino e os conhaques São João da Barra e Macieira, que eu misturava no leite cru, ao pé da vaca, para curar tosse, bronquite e resfriado. E o talco Palmolive, o talco Gessy, o sabonete “Vale Quanto Pesa” que era “grande, bom e barato” e não são mais fabricados como antigamente. Sapato era Fox, bico fino.

A farmacologia era abundante e que hoje não se vê mais nas prateleiras: Iodone Robin, Maitenil, Gotas de Carvalho (ainda existe?), Takazima, Bromil, Alcachofra, Chophitol (ainda se vende), Mezarin e tantos outros que só uma pesquisa pode me acudir.

O fato é que esse universo de produtos, imagens, e equipamentos desaparecidos registram uma época, balizam um tempo que foi modificado por novas invenções e tecnologias. São marcas que se foram, substituídas pelas descobertas e mudanças de um mundo que se renova. Vale a pena registrar porque todas essas coisas impregnaram a vida de muitos, hoje maiores de cinquenta anos.

Valério Mesquita  –  Escritor, presidente do HIGRN  –  [email protected]

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