PREVENIR OU REMEDIAR –

Foi preciso o triste acidente ocorrido na manhã da última terça-feira (26), com o desabamento da ponte Francis Scott Key, em Baltimore, nos Estados Unidos, deixando seis pessoas desaparecidas, para nos alertar quando ao “risco de cada dia” ao qual pode estar exposta a nossa ponte Newton Navarro.

A ponte norte-americana de 2,5 quilômetros desmoronou quando o navio cargueiro, batizado de Dali, com 300 metros de comprimento e 46 de largura, operado por empresa dinamarquesa, descontrolado ante uma pane no sistema elétrico esbarrou contra um dos pilares de sustentação de parte da ponte, construída em estrutura metálica.

A tragédia não atingiu proporções maiores porque dois minutos antes do choque a tripulação do navio conseguiu alertar a administração da ponte, que interrompeu o tráfego ainda não tão intenso nas primeiras horas daquela manhã.

Tal ponte, certamente, não possuía um dos mais importantes elementos de segurança para estruturas do tipo, quando construídas sobre áreas navegáveis: os dolfins de proteção – dolfins são cercas de concreto resistentes, instaladas ao redor de pilares de pontes construídas sobre áreas navegáveis para fomentar segurança, tais quais os existentes na ponte Rio – Niterói, a maior do Brasil.

A nossa imponente obra de arte sobre o Rio Potengi, denominada Ponte de Todos Newton Navarro, inaugurada no Governo Wilma de Faria, em 2007, já completou 17 anos. Possui 2,713 quilômetros de extensão total e 22 metros de largura. Trata-se de obra construída pelo governo estadual por onde trafegam mais de 50 mil veículos por dia.

Na sua inauguração eu dirigia a superintendência regional do DNIT e lembro bem que colegas já questionavam sobre o risco de inaugurar a ponte sem a devida proteção nos pilares, exigida para obras situadas por sobre áreas de navegação de cabotagem ou de longo curso.

Aposentei-me do serviço público e por falta de convicção faço aqui alguns questionamentos. A nossa ponte já está protegida contra acidentes idênticos ao ocorrido em Baltimore? Caso contrário, passado todo esse tempo sem a proteção devida é correto não se cogitar de utilizar tal equipamento?

Outro aspecto importante. Uma ponte pênsil ou ponte estaiada como a nossa tem a sua estabilidade garantida pelos estais ou cabos de sustentação. Daí o acompanhamento e manutenção de tais equipamentos – ajustes dos cabos de aço – serem imprescindíveis para a segurança da obra e do usuário.

Mais alguns questionamentos. Tais procedimentos de manutenção nos cabos estão sendo observados dentro dos critérios apropriados para a sua segurança? Qual o período estabelecido para os ajustes nos estais? Quantos ajustes já foram feitos?

Podem surgir justificativas aventando que o tráfego marítimo do porto de Natal é inferior ao de Baltimore, portanto, estatisticamente menor o risco de abalroamentos de embarcações nos pilares da ponte. Verdade! Porém, duvido que os responsáveis pela manutenção da ponte de Baltimore tenham imaginado pane numa embarcação, semelhante ao do acidente aqui relatado.

Estamos, sim, sujeitos a acidentes nos pilares da Ponte de Todos Newton Navarro, caso lá não estejam os dolfins de proteção. Entendo que prevenir ainda é melhor que remediar, quanto ao resto é querer dar sorte ao azar.

 

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil

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