PRAZERES DA VIDA –

Cada dia que passa e a medida que os novos dias me adicionam mais idade, mas quero ver as coisas com simplicidade. Procuro buscar as lembranças do passado que me foram agradáveis, e esquecer as desagradáveis que, felizmente, foram poucas –  e não as lembro mais.

Muitas dessas lembranças são de amigos que já se foram. Já escrevi sobre quase todos eles, mas alguns ficaram para depois, à medida que suas figuras aparecessem na minha mente. E, ressalto, tive a sorte de ter bons amigos, inteligentes, sensatos, cordiais, que muito me ensinaram.

Uma dessas figuras impar foi Álvaro d’ Araújo Lima, conhecido de todos como Limarujo, mas que fazia questão que quando fosse escrito, seu nome tinha que ser completo e com apóstrofo. Com ele convivi por muitos anos, amigo de meu pai, ambos comerciantes na Ribeira. Apesar da diferença de idade, fizemos uma sólida amizade. Foi quem me iniciou no Rotary Clube de Natal, em 1953, quando eu tinha apenas 23 anos. Onde fiz também ótimas amizades.

Lima era original. Teve uma vida difícil até a estabilização. Viajou o país inteiro consertando e limpando máquinas de escrever. Contava histórias interessantes desse tempo, das dificuldades de vida, das viagens constantes, mas nunca se queixou. Terminou por aqui, onde trabalhou com João Câmara. Depois, abriu seu próprio negócio na Travessa Aureliano, na Ribeira. Uma loja de ferragens, “Limarujo”, que fez sucesso, e nome pelo qual ficou conhecido.  O conheci nessa época. Nossa empresa tinha negócios com a dele. Todos os dias nos encontrávamos e batíamos um bom papo.

Entendia de cinema como gente grande. Toda segunda pela manhã, com outros amigos nossos que gostavam de cinema, nos reuníamos num café em frente à sua loja, para discutirmos sobre o filme do domingo, que todos viam no Rio Grande – única coisa que se podia fazer diferente em Natal daquele tempo. E ficávamos, todos nós, escutando os seus comentários, com os quais geralmente todos concordavam. Comentários prolixos, diga-se, pois Lima gostava de detalhes. Um amigo comum, exagerado, dizia que tinha deixado de perguntar as horas a ele, pois contava toda a história de como surgiram os relógios para poder dizer “são cinco da tarde”. Alvamar Furtado, que era nosso companheiro no Rotary, contava que chegou um dia na loja de Lima as oito da manhã. Lima disse, Alvamar, sente aqui que tenho um assunto a conversar com você, ao que respondeu: Lima, quero lhe lembrar que tenho um compromisso as quatro da tarde.

As histórias sobre ele são numerosas. Dariam um livro. Soube que uma de suas filhas escreveu e não publicou. Deveria fazê-lo. Conheço várias outras ótimas histórias sobre Lima, mas vou deixar para outra ocasião. Esta crônica já está além de meus limites. Como não gosto de história comprida, poupo meus possíveis leitores da chatice.

 

 

Dalton Mello de Andrade – Escritor, ex-secretário da Educação do RN

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