EUGENIO

Eugenio Bezerra Cavalcanti Filho

Hoje, ao se aproximar o final da tarde, estive observando, da minha varanda, um magnífico pôr do sol. Daqueles que deixam qualquer um extasiado. Quase que se assemelharia a alguns desses belíssimos espetáculos, de mesma natureza, que tive o privilégio de assistir no Iate Clube do Natal, à margem do rio Potengi. Tais eventos já se tornaram tradicionais, na capital potiguar; e a cada tarde um bom número de espectadores marca presença no Iate. Não somente turistas, que comparecem para apreciar tão imponente atração, como também os nativos, que não se cansam de ver a magnitude da despedida diária do radiante Sol.

Se têm mesmo como deslumbrantes, tais momentos! Realçados que são pelo privilegiado local, uma vez que o Sol se põe na margem oposta à ocupada pelo clube, e a largura do rio não é de grande extensão ali na foz, quase desembocando no Atlântico. A vista, então, é realmente fantástica, inclusive pelos reflexos avermelhados na superfície do rio, quando o Sol vai lentamente afundando na outra margem.

Como me referi no início, o que hoje vi, da minha varanda, em deslumbramento estaria próximo àqueles que se observam no Potengi. Só que a visão deixa de ser abrangente como aquela, pois muito se perde, principalmente à medida em que o astro vai se escondendo abaixo do horizonte, em face da existência dos obstáculos de permeio, representados pelas edificações de razoável altura. Mas não deixa de ser notável espetáculo, quando o Sol ainda se encontra em razoável altura, acima dos citados obstáculos. Aquela profusão de nuvens e raios solares, em tons vermelhos e dourados, compõem paisagem de beleza esfuziante.

Isso me fez recordar certa denominação do belo fenômeno, que a personagem Emília criou, quando nomeou tal maravilha como “pôr de sol de trombeta”. O grande Monteiro Lobato deu vida a essa boneca esperta, ardilosa e divertida, que, em minha opinião de leitor assíduo dos livros infantis da série, seria a mais importante protagonista das agradáveis aventuras no famoso Sítio do Pica-pau Amarelo. Essa sua incrível tirada, sobre o nome do fenômeno, é registrada logo no primeiro capítulo do livro “A Chave do Tamanho”, publicado em 1942. Transcrevo a seguir o texto correspondente:

“O pôr do sol de hoje é de trombeta – disse Emília, com as mãos na cintura, depezinha sobre o batente da porteira onde, naquela tarde, depois do passeio pela floresta, o pessoal de Dona Benta havia parado. Eles nunca perdiam ensejo de aproveitar os espetáculos da natureza. Nas chuvas fortes, Narizinho ficava de nariz colado à janela, vendo chover. Se ventava, Pedrinho corria à varanda com o binóculo para espiar a dança das folhas secas – “quero ver se tem saci dentro”. E o Visconde dava as explicações científicas de todas as coisas. O pôr do sol daquele dia estava realmente lindo. Era um pôr de sol de trombeta. Por quê? Porque Emília tinha inventado que em certos dias o Sol “tocava trombeta a fim de reunir todos os vermelhos e ouros do mundo para a festa do acaso”. Diante dum pôr de sol de trombeta ninguém tinha ânimo de falar, porque tudo quanto dissessem saía bobagem.

Eugenio Bezerra Cavalcanti Filho – Empresário e Escritor 

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