TEMPOS DE SOBERANIA DO CONSUMIDOR –

Um dos fatos econômicos mais importantes dos últimos tempos tem sido o que tenho chamado de “exercício de soberania do consumidor”. Esse novo fenômeno surge, em larga medida, como consequência de inovações derivadas da criatividade e da tecnologia, hoje importantes fatores de produção. De fato, uma modelagem que tem dado uma dinâmica econômica diferenciada no mundo dos negócios, suficientemente capaz de dar um maior protagonismo ao consumo.

Explico. A chamada “revolução digital”, como bem exalta o publicitário Walter Longo, transformou o mundo econômico da “média”, no universo da “mídia” (a metáfora de Longo é que só agora saímos da Idade Média). E o que isso quer dizer, saindo dessa lógica da Publicidade para o pragmatismo da Economia? Bem, a partir do momento em que os negócios começaram a abandonar os “protocolos médios” para satisfazerem suas demandas, esse mundo novo passou a girar em torno da “personalização das mídias”. Ou seja, os indivíduos assumem papel relevante como agentes econômicos, no exercício de suas escalas de consumo.

Nesse sentido, nas minhas análises, não hesitei em definir esse fato econômico como a “soberania do consumidor”. Uma conquista que só atingiu essa condição graças ao “big data”. No âmbito dessa revolução digital, onde a informação se transformou noutra espécie de fator de produção abstrato ou intangível (como a inovação criativa e tecnológica, conceitualmente diferente dos quantificáveis trabalho e capital) os algoritmos ditam as regras que fazem a nova cena econômica.

Dois exemplos ilustrativos, que dão a ênfase nas escolhas, na decisão soberana do consumidor. No ciclo econômico do Audiovisual, por exemplo, a decisão de consumir filmes ou séries não dependem mais de uma oferta inelástica. Os exibidores (ofertantes) podem até impor suas programações. No entanto, a audiência do público (demandantes) se tornou bastante elástica. Consome-se na mídia que se deseja, no tempo e nas condições ambientais escolhidas pelo consumidor. Outro exemplo, bastante intensificado no contexto do isolamento social, foi a opção do consumo de muitos produtos pela internet (e-commerce). As consequências da abertura desse espectro trouxe facilidades que impuseram fatos novos como menor dependência física para as compras, cartões digitais e até opções por “fintechs”, para transações financeiras e creditícias mais baratas. Uma amplitude maior e individualizada para que o exercício do consumo se faça mesmo soberano.

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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