IDEOVAX: A IMUNIZAÇÃO CONTRA AS SÍNDROMES DOGMÁTICAS – 

Nos anos 70, o economista Edmar Bacha ilustrou um Brasil ambíguo e contraditório, o qual denominou de “Belíndia”. Essa era a conjunção de uma Bélgica pequena e rica, com uma Índia grande e pobre, que explicava a estrutura socioeconômica brasileira.

A crise sanitária atual proporcionou ao quadro da saúde pública brasileira uma nova conjunção, não menos ambígua e contraditória – a “DINARÁGUA”. Um misto que reflete os distintos padrões de saúde entre países extremos: a próspera e consciente Dinamarca e a frágil e irracional Nicarágua.

Não me reporto aqui à percepção quanto aos efeitos na saúde, que decorrem de padrões de renda tão distantes entre esses países. O que quero aqui é fazer dessa analogia algo que traga esse entendimento para essa zona de conflito absurda: entre os que aceitam e negam a pandemia.

Pautado por um processo político contaminado por ideologias extremas, o Brasil convive, desde o início da pandemia, com embates entre a Dinamarca e Nicarágua, em termos de políticas públicas.

Por conta disso e devidamente pautado pela falta de planejamento, o Brasil não soube “entrar” no ciclo pandêmico e, como derivada seguinte, não está por saber a “saída” desse quadro. O descompasso político virou regra e está onipresente em fatos.

O mais recente deles se deu hoje. Demos um passo na direção da Dinamarca, para logo depois recuarmos, na direção da Nicarágua. Refiro-me a essa ciclotimia descabida, que num dia se aceita a difusão da vacina e no outro a nega.

Embora as entrelinhas dessas reações pareçam ser, propositadamente, dirigidas à promoção da dúvida e da insegurança, o pior dessa história é ver a sobreposição da política e da ideologia acima do valor técnico e dos interesses da população.

Enfim, uma lamentável encenação política de mentes seletivas. No momento de operar a imunização pela vacina, fala-se agora da preocupação com cobaias, algo não tratado quando o assunto foi prescrever remédios sem respaldo científico. Vale tudo pelas ideologias.

Desse jeito, a vacina deveria ser a IDEOVAX, essencial para as síndromes dogmáticas de acólitos e seguidores.

 

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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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