Projetar Cenários Econômicos em Tempos de Incertezas é Rotina Funcional –

Quais os Sinais Emitidos há Poucos Dias do Segundo Turno das Eleições?

As expectativas são uma variável importante no cotidiano da economia. O humor dos agentes que operam os chamados mercados está sempre alinhado com as reações dos demais segmentos da sociedade. Entre os “insights” que dão o tom da política econômica e o comportamento individual de consumidores e produtores, extraem-se boas ou más especulações, que afetam a dinâmica de cada dia da economia.

Claro que um ambiente político, com tamanho nível de acirramentos e impropriedades, tem sido a pauta atual, geradora das constantes incertezas que pairam no ar. E o danado é que temos uma dose de nitroglicerina pura. De fato, a efervescência não gerou ainda uma turbulência tão acentuada, a ponto de contarmos com desastres nas bolsas, no câmbio ou nos ambientes que o valham.

Muito embora longe desse nível de terror, a insegurança quanto ao futuro, no curto e longo prazo, está como a maior opção da bola de cristal posta sobre a mesa geral dos negócios. Cabe reflexão desse momento, que bem se aplique numa semana decisiva, próxima de um pleito exacerbado, pela sua própria natureza.

Noutra ocasião, expus uma opinião sobre esse contexto, mas baseada nas expectativas em torno das equipes econômicas e do que poderiam fazer. Por um lado, a continuidade de um time pusilâmine, que trocou sua ideologia por um populismo político de republiqueta. Por outro, uma postura pendular que sinaliza para o rodízio da insegurança, dado entre o fiscalismo estruturante e um social-liberalismo tímido. Situações tão distantes, que seria melhor a adoção de um receituário mais pragmático, conforme os contornos observados sob os pontos de vista fiscal, monetário e cambial.

Posso insinuar que a tese acima pode ser vista de modo geral e que serve para uma visão de prazo maior. No curto prazo, o maior desafio é o enfrentamento de uma realidade fiscal que só é conhecida pelo próprio governo. Dado esse efeito que, por si só, já se revela preocupante, projeções recentes sobre o nível da atividade econômica, a inflação, o câmbio e as relações trabalhistas são aspectos que tiveram vulto nestes últimos dias. Cada um desses representa um vetor de forte influência na determinação da política, no curto prazo.

A verdade é que esses ditos vetores expressaram preocupações pouco esperadas pelo governo, nessa linha de chegada do segundo turno das eleições. As projeções de crescimento para 2023 estão sendo revistas para baixo. A inflação deve ser retomada, mesmo que de forma moderada, por uma provável revisão do represamento dos preços dos combustíveis. O mercado de câmbio não tem dado sinais de estabilidade, haja vista suas oscilações ziguezagueantes. Por fim, essa intenção exposta pela equipe econômica de não indexar o salário mínimo e os benefícios sociais, parece-me uma demonstração de que o quadro fiscal não deve estar minimamente favorável. Nesse sentido, a equipe atual parece querer valer agora seus mais intensos instintos liberais. Certamente, que essa decisão politica não é adequada, justo quando a exclusão social tomou uma dimensão, que merece – aí sim – um trato público mais intenso.

O momento exige equilíbrio, diante do desafio de conter a hemorragia fiscal, sem abandonar a terapia social. Pela composição das forças políticas e técnicas a tendência por um enfrentamento melhor desse desafio parece estar mais ao alcance da oposição. Afinal, não há tempo difícil que perdure, quando fortes intenções durem diante da batalha.

 

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaborador

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