A Incitação do Ódio Não Ajuda na Excitação do Óbvio –

As atividades econômicas não são apenas guiadas por sofisticadas elaborações teóricas ou por resultados das observações de experimentos. A ciência também mostra uma economia submetida a imprevisíveis efeitos comportamentais dos seus agentes, que terminam por mexer nas expectativas de quem faz a política, produz ou consome. Há um tanto de psicologia, metafisica ou experiências outras que aqui o valham, responsáveis por gerarem uma taxa do imprevisível, ou mesmo, do sobrenatural. Certamente, nós economistas, precisemos de um reforço na frágil base filosófica, para daí entendermos melhor o sentido do que possa nos situar noutra dimensão científica.

As situações recentes que, em particular, atingiram em cheio o cenário socioeconômico brasileiro, parecem-me dar embasamento a essa tese que aqui exponho. Do drama do enfrentamento da pandemia até as movimentações políticas que nunca retiraram os olhos das eleições, extraio um caldo de muitos pressupostos que exerceram (e continuam a exercer) pressões sobre a dinâmica econômica.

Como anuciei no título hoje, a incitação do ódio não ajuda sequer uma mínima excitação em favor do óbvio. Negar por negar com tanta frequência, apenas pelo prazer de ser contra, anunciar-se fora de um tal sistema que não atende verdades próprias e fazer disso tudo uma cadeia de transmissão odiosa, virou plataforma. É o “fake” dos “fakes”.Uma mentira maior para justificar tantas outras.

Tomo aqui como referência o esforço governamental de atuar como o absoluto inquestionável. Nesse sentido, governo e seguidores foram capazes de se insurgirem contra situações e exemplos quase que unanimemente aceitos. Ensaiaram, exercitaram e ainda continuam com o propósito de descredibilizar vacinas e urnas. Não importam as conquistas efetivas de ambos. Nem mesmo as extensões contributivas da ciência e da tecnologia para, naqueles casos, salvarem vidas ou sustentarem a democracia. O que vale é facultar o falso discurso de não ser sistêmico, para nisso impor os arroubos autoritários.

O incrível é que nesses impulsos não se medem os efeitos danosos sobre a economia. Até bem pouco tempo havia uma enorme insegurança com relação ao descrédito e, posteriormente, à lentidão da política pública de saúde, em garantir a plena vacinação da população Não muito diferentes são outras repetidas sandices representadas pelos ataques às urnas eletrônicas. E neste clima de eleições, por mais que uma excitação agressiva só caiba na bolha dos acólitos, sempre há respingos onde a imaculidade se faz necessária. E daí, tome incertezas sobre o futuro político, que só servem para levar aos investidores mais cautelas. O episódio da inusitada convocação de embaixadores, para difundir impropriedades sobre nosso meritório sistema eleitoral, foi exemplar enquanto referência. Por mais constrangedor que tenha sido, enquanto essência.

Fico aqui a elucubrar sobre o papel de submissão da equipe econômica. Parecia inimaginável que economistas envolvidos com o mercado, desde então integrantes do governo, fossem tão tolerantes diante dessas sandices. Mas, para quem como um “mito santificado” disse que o Brasil está acima da crise e que tudo vai muito bem obrigado (sem os adversários e três membros do STF, o paraíso estaria conquistado), o que restaria às lagartixas da esplanada? Simples assim: balançarem suas cabeças para não expô-las depois da forca.

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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