Da vanguarda da estupidez à luz de Luana: a vitória do conhecimento –  

Encantado pelo “morning show” da semana passada, conduzido pela competência da Dra. Luana Araújo na CPI, acabei de verificar que o nome próprio Luana significa “a pessoa reluzente” ou “a combatente gloriosa”. Tudo a ver. Afinal, mais do que uma apresentação contundente, elucidativa e conclusiva sobre a relevância da ciência diante do obscurantismo e morticínio, foi mesmo a reconquista de uma esperança que parecia estar perdida. Isso foi o que despertou em mim ainda mais atenção.

De fato, pretendo aqui mostrar uma outra face do depoimento da médica que foi pouco ou nada explorado. Extrair dele o sentido vitorioso dessa esperança consagra uma certeza própria de que, nessa trajetória da CPI, aquelas sete horas de domínio e conhecimento do problema, representaram uma apoteose. E tão ou mais sutil que essa conclusão é o significado que representa como alento, até mesmo para o que poderá ser o desafio do performance econômico, independente do momento adequado para que a economia se sinta no ponto de reagir. Afinal, qualquer que seja o valor técnico que se sobreponha na condução de uma política pública, sempre haverá uma expressão econômica para se evidenciar.

Explico, nos mínimos detalhes, esse senso de esperança que retirei daquele depoimento tão esclarecedor. São dois os vetores resultantes: 1) a consagração desse valor técnico, a partir da defesa consistente de um conhecimento só alcançável por meio de estudos e pesquisas;  e, 2) a clareza com a qual se consegue reconhecer a real diferença entre o público e o privado. Detalhe vital: apesar dos atributos de uma personalidade que esbanjou seguranca, eloquência e didatismo no seu modo de se comunicar, só mesmo uma especialista em infectologia e saúde pública poderia ser, nos argumentos necessários, tão precisa. Cirúrgica, para usar a linguagem médica.

Com base na primeira observação, ficou muito clara que a opção política por primeiro negar e depois protelar a imunização por meio de vacinas tem sido a maior responsável pela instabilidade econômica. Aliás, a “cereja do bolo”, diante de duas outras situações  (in)consequentes: o desejo de só agir pelo interesse do confronto político que se coloca no futuro próximo e a incoerência de se manter na inércia da política econômica do governo que remonta ao seu próprio passado, dados os 15 meses iniciais da gestão.

Mas o outro aspecto tão ou mais relevante que extraio daquele depoimento foi o sentido do espírito e do dever públicos. Nada tem sido mais angustiante do que constatar, em plena dramaticidade de uma pandemia, a supremacia do egoísmo e da falta de empatia. Na exposição hipócrita de um falso dilema entre liberdades individuais inquestionáveis versus controles públicos eventuais, esconde-se todo descompromisso com o interesse coletivo num ambiente de grave crise sanitária. Não se trata apenas de uma espécie de “amadorismo político” vigente, no trato de um problema de saúde pública. Por trás disso há um contexto ideológico que exagera na dose de negar o valor da política pública, sobretudo, numa “circunstância de guerra” derivada de um quadro de pandemia.

Enfim, entendo que Luana trouxe muito mais que a simplicidade de expressar a força da técnica e da ciência numa crise de saúde pública. Às suas convicções sobre esses pontos, somaram-se as demonstrações do quanto se precisa respeitar o senso coletivo numa crise dessa envergadura.

Foi uma lição política com efeitos importantes para a economia. Um ensaio contra essa triste vanguarda de estupidez na qual o país tem-se visto imerso.

 

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco e colunista da Folha de PE

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