Arthur Schopenhauer (1788-1860) importante filósofo alemão, cita em seu livro “A Arte de Escrever”, que há dois tipos de escritores: aqueles que escrevem em função de um pensamento digno de ser compartilhado e os que escrevem por escrever.

Como leitor, usufruo do pensamento do autor para ir formando, a partir do encadeamento de suas ideias, o meu próprio universo de contemplação e criação associativa, conforme o acervo mental acumulado ao longo de minhas vivências.

Nesse estágio, uma das vertentes interessantes é conhecer aqueles que transformam seu modo de pensar, em escritos, com a própria personalidade – ou do que se conhece do escritor.

Para exemplificar, escolhi entre os livros dos quais – por convites honrados – participei de seus lançamentos, com o mérito de conhecer cada um de seus autores, de forma gradual e, de acordo com as oportunidades que a vida nos apresentou.

Inicio com o livro A PIPA e outros poemas de João Bôsco Campos, com o qual convivi no ambiente profissional e que ao tempo que brindava-nos com sua alegria contagiante, confrontava-se, às vezes, com momentos contemplativos e olhar fugaz. Do seu livro extraio o “Poema de um momento triste”: Pesa-me a vida / Esta vida dupla / Não sei se merecida / Ou pagando minhas culpas. / Minha fragilidade / Derrota-me. / Tombo sem felicidade / E sem rota. / Como é vã a felicidade. / Tenho tudo, tenho nada. / Pois não tenho a liberdade. / Procuro meu norte / E entre névoas e brumas / Se aproxima a morte.

Adauto José de Carvalho Filho, em seu ÚLTIMO EMBARQUE, brinda-nos com contos, crônicas e artigos, entre eles: “Amante amor amante”, cujo segmento aqui é expresso: O amor ensina ao homem o que ele deveria ser e o quanto sua aceitação é capaz de provocar as mudanças em sua vida, considerados sonhos e utopias. Ama-se a quem se ama e não a quem se gostaria de amar.

Grata satisfação em tomar conhecimento da obra de Damião Gomes, pelo próprio, cujo título CORAÇÃO DE PEDRA & outras histórias, desencadeia a fruição gostosa em seus contos, entre os quais: “Mar de Rosas”, narra-nos: Enquanto tudo isso acontecia, eu pensava no compromisso de nunca decepcioná-los. Fiquei ainda mais comedida. Jamais trairia a confiança depositada em mim. A consciência legara-me a prudência que faria esperar a minha vez.

Regina Azevedo, no auge dos seus dezesseis anos, impõe sua personalidade nos versos que deslizam nas páginas de POR ISSO EU AMO EM AZUL INTENSO. A sensibilidade das palavras, quase sintéticas, são diretas e abrangentes como em “Nós”: eu afasto as suas costelas/ e descarto os ossos/ como fossem figurinhas/ e abro seu coração./ dou nós às ramificações/ penso: não/ não vou fazer isso, não/ mas não há nada tão lindo nesse/ mundo/ como quando exploro/ você./ então afasto os ossos/rasgo a carne/ rompo essa loucura descompasso maior/ só para poder te costurar/ em nós./ e depois/ entre as linhas/panos, sangue/ nos despediremos da carne/ seremos/ colcha de retalhos.

Haroldo Pinheiro Borges, agora em parceria com Cleudia Bezerra Pacheco, em NOBREZA DA VIDA AGRESTE, invoca emoções a partir de memórias que não se apagam e que marcam historicamente a trajetória de IEIÊ – João Batista Pinheiro Borges, poeta e rabequeiro, além de fazendeiro das Queimadas. No livro está dito: As Queimadas é o lugar onde as relações humanas se realizaram no plano do vivido; onde construiu uma rede de significados tecidos pela história e pelos costumes; onde a produção do lugar se relacionava com a produção da vida das pessoas que se reconheceram e se perderam, usufruíram ou modificaram com seus usos e com uma rede de significados e sentimentos.

Chego então ao VIGÊNCIA DA LEI DE DEUS, Os Mandamentos, os Pecados e as Virtudes, do eminente escritor Diógenes da Cunha Lima, que me intitula como “inventor” de tal livro. Diferentemente de Moisés, que recebeu os dez mandamentos de uma só vez, o poeta Diógenes, apresentou-nos um a um, numa linguagem atual, afeita aos homens de hoje – inquietos e inseguros, tão “perdidos” quanto o povo conduzido à terra prometida. Quando todos os dez mandamentos foram divulgados por Diógenes, tomei a liberdade de insistir que os reunissem em livro, para deleite dos seus aficionados leitores. Ainda bem que o escritor Diógenes da Cunha Lima, na sua sapiência, resolveu nos presentear a sua “tábua” literária. Aqui para nós, os “mandamentos” de Diógenes são mais esclarecedores que aqueles dantes, para os pecadores além.

Lembro que todos os escritores aqui citados são “nossos” – potiguares – exímios articuladores das palavras, que traduzem pensamentos, vivências e momentos de pura liberdade de expressão.

É muito bom estar pertinho do escritor.

Prestigie a prata de casa – tão competentes quantos aqueles outros.

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

2 respostas

  1. Caro amigo Josuà, você sempre surpreendendo com suas qualidades reveladas de forma sempre discreta e que aos poucos se mostram grandiosas e encantadoras. Assim é como vejo sua publicação no Ponto de Vista on-line e compartilho com você o prazer da leitura de uma obra literária tendo o seu escritor pertinho. Tenho o prazer de conhecer alguns dos ali apresentados e admiro sua iniciativa de valorizar nossos escritores. Eles são a verdadeira riqueza da terra pitiguar. Parabéns.

  2. Caro

    Carlos Alberto Josuá Costa

    Através desta sua resenha sobre autores e obras vejo quanto você valoriza as artes literárias em geral, inclusive citando o grande mestre Schopenhauer. Seu artigo se refere a nomes já consagrados na literatura potiguar, mas também, vai além, ao divulgar os que se iniciaram recentemente pelas trilhas tortuosas das palavras, como é o meu caso, ao lançar o segundo livro de ficção: Coração de Pedra & Outras Histórias.

    De minha parte só me resta agradecer ao ilustre resenhista e lhe dizer que fico muito grato e feliz de saber que nesta terra de Poty ainda há gente culta interessada na ficção produzida no solo potiguar.

    Assim, desejo que o amigo continue pertinhos dos escritores, para levar ao nobre público deste blog notícias da prata da casa, com já bem enfatizado.

    Saudações literárias.

    Damião Gomes

    Natal, 10.01.17

Deixe um comentário para Damião Gomes Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *