Indiferença política –

O Brasileiro está cada vez mais indiferente entre democracia e autoritarismo. Segundo a ONG Latinobarometro, 36% dos brasileiros apresentam este comportamento. Um dos maiores da América Latina. Argentina, Costa Rica e Uruguai alcançam menos de 20% de indiferença. Já Honduras lidera como o país com maior apatia, com 42%; seguido pelo Panamá (39%); e Equador (38%). Venezuela e Nicarágua foram excluídas do levantamento por não serem consideradas democracias. Os brasileiros não querem um regime militar puro sangue, mas não morrem de amores pela democracia. Há um nítido vazio conceitual. Isto abre a possibilidade do fortalecimento de líderes populistas. Segundo a politicóloga Marta Lagos, responsável pela pesquisa, a América Latina sofre do que denomina de “diabete democrática” uma doença que piora a cada ano.

Não é à toa que os dois líderes nas pesquisas eleitorais no Brasil tenham características populistas: um de esquerda e outro de direita. Insistir nisto, significa acirrar as diferenças já existentes. Radicalizar em vez de pacificar. Afinal, o populismo distorce a democracia ao jogar a dimensão majoritária da mesma contra a dimensão liberal que é um arranjo de direitos consubstanciados através de leis. O limbo entre democracia e ditadura é bem exemplificado pelo caso de El Salvador. Lá o presidente Nayib Bukele, se autodenominou, via tuíte, de “o ditador mais cool do mundo”. Assim reagiu, ironicamente, a acusação da oposição de que está convertendo o país em uma ditadura. Ele tomou atitudes que violam a independência tanto da Suprema Corte como da Procuradoria Geral. Assim, fortaleceu seu poder presidencial. Graças a isto, conseguiu contornar a Constituição do país e garantir seu direito a concorrer à reeleição em 2024. É franco favorito. Bukele tem o apoio de quase 85% do eleitorado salvadorenho.

 

 

*Publicado originalmente em O Poder, 12 de outubro de 2021

 

 

 

Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE

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