1- O ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, em entrevista concedida hoje ao Estado de S. Paulo, levanta a possibilidade de que os distúrbios ocorridos entre a PMPE e manifestantes, na semana passada, tenha conotação ideológica.

Não apresentou uma evidência. Só ilação que faz parte de uma narrativa que está sendo construída por determinados setores políticos.

Será que o governador de Pernambuco, que é de esquerda, já não teria acusado de bolsonarismo os policiais que feriram os manifestantes caso tivesse certeza disto?

Detalhe: das cerca de 200 manifestações de rua contra Bolsonaro realizadas na semana passada, apena uma terminou em conflitos sangrentos.

Tomar a árvore pela floresta chama-se falácia de composição.

2- O ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, pede com veemência a punição do general Pazuello.

Contudo, quando era ministro da Defesa, o atual vice-presidente General Mourão, proferiu uma palestra pregando a intervenção militar. Algo muito mais grave do que fez Pazuello.

Jungmann amarelou e aceitou que o mencionado general sofresse apenas uma advertência informal do seu superior, o general Eduardo Vilas Bôas.

3- Foi arriscada a decisão do Exército em não punir o general da ativa Pazuello. Curioso a quantidade de pessoas alegando que o exército não deve se intrometer em política. Contudo, estas mesmas pessoas não pedem o fim do artigo 142 da Constituição Federal.

Tal artigo garante constitucionalmente a presença do Exército na política interna do país, ao conferir às FFAA o papel de garantes da lei e da ordem. E elas podem decidir quando tanto a lei como a ordem podem ser violadas.

Este artigo inexiste em qualquer democracia consolidada e foi copiada pelas constituições pinochetista e sandinista. Autoritarismo de direita e de esquerda em ação.

Quando os constituintes de 1987 ameaçaram abolir tal artigo, o então comandante do Exército, general Leônidas Pires, ameaçou zerar todo o processo constituinte. Os civis amarelaram e o artigo foi mantido. Até hoje.

4- O Brasil está sofrendo de gastroenterite mental aguda.

Nada justifica que um policial queira prender alguém por carregar um adesivo antibolsonaro. em seu veículo. E o pior baseado na Lei de Segurança Nacional cuja última versão é de 1983.

Porém por qual motivo desde 1985, o Congresso não anula esta lei? Só agora descobriram seu caráter antidemocrático? A discussão sobre o fim da mesma encontra-se travada no Senado Federal.

Não temos um ethos democrático e os debates são rasos como uma filete de água.

 

 

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Mestre em Ciência Politica pela Universidade Hebraica de Jerusalém, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Chicago; Professor titular aposentado do Departamento de Ciência Política da UFPE

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