1- Uns alegam que a palavra é a premissa do ato. Há divergência.

A dicção bolsonarista é claramente autoritária. Contudo, até o momento, Bolsonaro respeitou todas as decisões tomadas tanto pelo Congresso como pelo STF. E a imprensa é livre.

Para os otimistas, o Presidente é um bravateiro. Para os pessimistas, ele está apenas tateando na espera do momento certo de fechar o regime.

 

2- Elite predadora

O principal esporte de nossa elite política, com honrosas exceções, é predar o Estado. Ou seja, seus irmãos brasileiros que financiam suas benesses. De preferência, os mais fracos. Desde tempos imemoriais. Contudo, agora a elite se superou. Estamos em plena pandemia com mais de meio milhão de mortes e milhares de sequelados. Faltam recursos para saúde, educação e segurança pública. Setores da economia agonizam, o desemprego é alto. Milhares de brasileiros vivem com um mísero auxilio emergencial. Além do mais, a desigualdade de renda aumentou com a pandemia. Mesmo assim, os predadores não dão sinais de empatia. A prova é que na semana passada o Congresso aprovou o montante de R$ 5,7 bilhões para o Fundo eleitoral. Daria para pagar o custo da vacinação de todos os brasileiros. Além de 3 milhões de cilindros de 50 litros de oxigênio, segundo estimativas. O apetite dos políticos é tão voraz que a soma aprovada supera em R$ 2 bilhões a do ano passado e é o triplo das eleições de 2018. O Brasil é o mais país que mais gasta dinheiro público para financiar campanhas eleitorais. Com o objetivo de enrolar os incautos.

Achando pouco, o Senado aprovou a recriação da propaganda partidária no rádio e na TV, tanto fora do período de campanha como mesmo em anos sem eleições. Esta predação custará aos cofres públicos cerca de R$ 228 milhões (nos anos eleitorais) a R$ 527 milhões (nos anos sem eleições), segundo cálculo do senador Carlos Portinho, relator da proposta no Senado. Sem esquecer que o Estado fica com cerca de 40% de toda a riqueza criada por quem trabalha.

O Estado é predado por todos os partidos independente de suas ideologias. Uns mais outros menos, mas a voracidade segue em ascensão. Temos uma casta que juntamente com a do Judiciário, não presta contas a ninguém. Há um círculo vicioso em ação: o Estado gasta mais do que arrecada com isto produz um déficit que será pago pelo contribuinte sob a forma de impostos pesados para financiar esta dívida pública ou por alta inflação. O Brasil não tem futuro como Nação. Somos, apenas, um grupo de indivíduos que habita uma mesma área geográfica. Não temos valores superiores a nos unir, nem em época de pandemia. Com uma elite política desta qualidade jamais seremos um país de todos. Ou seja, a almejada paz social fica cada vez mais distante. E suas preocupantes consequências cada vez mais perto.

Jorge Zaverucha (publicado orginalmente em O PODER 27/7/21)

 

 

 

 

 

 

 

Jorge Zaverucha – Doutor em ciência política pela Universidade de Chicago (EUA), é professor titular do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco

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