PAPA FRANCISCO: COMUNISTA OU DEFENSOR DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA? –

Existem situações na vida que são inexplicáveis, embora tenhamos que respeitar o pensamento de todas as pessoas.

Em razão da presença do Papa Francisco ((266º papa),) em Portugal, na Jornada da Juventude, propagam-se nas redes sociais e mídia insultos ao Pontífice, acusando-o sobretudo de comunista.

Cabe lembrar a palavra de Jesus, no evangelho de Lucas: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo”.

Jorge Bergoglio era o nome do Papa Francisco, antes de se chamar Francisco.

Ao assumir o nome de Francisco de Assis deu o sinal de que o seu pontificado seria guiado pela modéstia e uma visão da igreja mais próxima do povo.

O nome simboliza miséria, humildade, simplicidade e reconstrução da Igreja Católica.

Busca por “justiça social e uma nova evangelização”.

Na condição de jesuíta, Francisco tem uma visão avançada do mundo e do papel da Igreja católica.

A história mostra, que a ordem jesuíta (Companhia de Jesus) chegou a ser extinta pelo Papa Clemente XIV, no ano de 1773.

Após quatro décadas, o Papa Pio VII, no dia 7 de agosto de 1814, corrigiu o erro e restaurou a Companhia de Jesus no mundo.

Francisco pertence a uma ordem que se moldou na disciplina militar de um soldado basco, ferido por bala de canhão.

Numa batalha contra tropas francesas na cidade de Pamplona, na Espanha, o soldado Iñigo López de Loyola (depois conhecido como Inácio de Loyola) viu sua perna direita ser estraçalhada.

Em vez de ingressar no grupo dos rebeldes que desafiava o Vaticano, Loyola formou sua própria milícia cristã para a defesa e a propagação da fé.

Em agosto de 1534, ele e mais seis companheiros fundaram a Companhia de Jesus (jesuítas).

A marca dos jesuítas sempre foi a defesa da doutrina social da igreja, – conjunto de orientações que discorria sobre o “espírito de mudança revolucionária” que à época varria a Europa.

Os ensinamentos dessa doutrina eram refutação às ideias comunistas e também crítica a alguns aspectos do capitalismo.

Uma mistura que não se adequa ao maniqueísmo de esquerda e direita, que domina atualmente a política do século XXI.

Francisco, o primeiro jesuíta a chegar ao papado, durante a sua vida sacerdotal não temeu a modernidade e sempre trabalhou para a Igreja adequar-se aos princípios da fé, do dogma, a vida do dia a dia do conjunto do povo.

Francisco ultrapassa os limites do catolicismo.

Ele não teme enfrentar o mundo de hoje para valorizar a presença da religião na vida dos cidadãos.

Por isso, coloca a palavra do Evangelho em temas como da diversidade sexual, posição da Igreja face aos religiosos, aborto, abusos sexuais na igreja, privilégio às mulheres na vida da Igreja, busca o diálogo amplo e outras questões que desafiam a humanidade.

A Igreja de São Damião em Assis foi o local onde São Francisco de Assis, há muito séculos, ouviu a mensagem de Jesus, que dizia: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”.

Desde a sua escolha para o papado e a aceitação do nome Francisco, o Pontífice traz consigo essa frase sagrada, que simboliza a missão de implantar novos tempos na Igreja, que garantam o incondicional respeito ao dom inviolável da vida, por uma sociedade justa e solidária.

É a convocação essencialmente evangélica do Papa Francisco., que nenhuma relação tem com esquerda e direita.

O compromisso dele é com a doutrina social da Igreja, que impõe a semeadura da solidariedade cristã, eliminando a dominação que oprime e descaracteriza o ser humano.

A solidariedade conduz a redistribuição justa e sem violência da riqueza, respeita a propriedade privada, a necessidade de ajudar os mais pobres com inspirações do Evangelho e não tem nada a ver com marxismo ou comunismo.

O perfil ideológico do Papa Francisco vem de uma declaração pessoal, proferida em encontro virtual, durante a pandemia.

Disse Sua Santidade:

“Nunca perca de vista o fato de que não há democracia com a fome, não há desenvolvimento com a pobreza, e muito menos justiça com desigualdade”

A propósito, ontem, 3, em Portugal, Francisco dirigiu-se aos jovens com uma corajosa convocação:

“Não tenham medo. Sonhem, se inquietem e que não sejam “presas da especulação e do mercado selvagem”

Como se vê, um autêntico defensor da Doutrina Social da Igreja.

 

 

 

Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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