ADAUTO CARVALHO

Adauto José de Carvalho Filho

Eu sempre mostrava às plateias das centenas de palestras que proferi, nas áreas de tributação, gestão pública e controle social, nenhuma delas pagas com o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), logicamente, não tenho qualificação para tanto, mas, pela vasta experiência calcada nos caminhos pardos do mundo, acho que quem paga tal quantia não quer uma simples palestra, mas algo concreto, mensurável e, pelo valor, tem que ser algo que justifique a relação custo benefício. O mundo dos negócios não conversa, contabiliza e é esse o método para cada decisão a ser tomada. Para uma palestra valer um milhão de reais, cem vezes o valor de mercado, não tem justificativa plausível, nem que o palestrante detivesse a alquimia da vida eterna ou a certeza dos pressupostos da imortalidade da empresa contratante.

O fato do ex-presidente Luís Lula Inácio da Silva, com todas as pompas e circunstâncias que se queiram dar a tão controvertida figura, que se perderia facilmente em uma biblioteca, tal um labirinto, pelo simples fato de não saber ou conhecer o que é uma, é, no mínimo estranho. O que esse homem teria a dizer ao mundo que valesse tanto e o que suas palestras significariam para a empresa Odebrecht para valer tanto. Eu sei que a excentricidade é comum ao homem, mas não às empresas. Ou eu passei por tolo durante anos proferindo palestras por valor ínfimo em relação à tabela usada pela Odebrecht e, por oportuno, quanto a empresa paga a um palestrante, dito normal, especialista em algum ramo no seu campo de atuação?

Alguém teve a lucidez de verificar nos assentamentos contábeis da empresa um fato tão simples ou pesquisar nas atas do Conselho Diretor os motivos de um valor tão alto por uma prestação de serviços comum e o efetivo resultado de posicionamentos ou aconselhamentos tão caros? Aprendi, com a práxis da vida de auditor-fiscal, que a grande chance de sucesso na apuração de um fato qualquer reside no fato que ele tem sempre dois lados. Uma teoria medíocre até. Entre pagadores e recebedores surge uma figura presuntiva que se chama efetividade do fato e a comprovação documental. O que restam comprovado e documentado na contabilidade da empresa ou nos seus arquivos societários que enseje um negócio de tão alto risco ou de uma benevolência que não existe no mundo dos negócios?

Tudo é simples assim.

O valor que se paga tem que se transformar em algo que proporcione lucratividade da empresa para que se justique a compra de um serviço tão caro e de execução tão rápida e de resultados não mensurados. Que visão do mundo empresarial tem o ex-presidente para que, em apenas uma hora ou um pouco mais do que isso, consiga modificar radicalmente a cultura da contratante. E uma palestra com o padrão de excelência que o preço instiga foi proferida quando, onde e para qual público? Sinceramente, eu tenho que aplaudir alguém que cobra por uma palestra (e encontra alguém que pague) a bagatela de um milhão de reais.

Deve ser alguém predestinado por forças divinas a um nível de aprimoramento pessoal e profissional incomum aos mortais. Mais que isso, além do conhecimento, a capacidade, quase divina, de interferir tão rápido e diretamente, na forma de pensar de pessoas altamente qualificadas para as funções que exercem. Assim penso. Quem pagaria um milhão de reais por uma palestra a ser proferida para operários. Nada contra, até acho que mereciam, mas os resquícios da velha teoria da mais valia não inspira realidade ao fato.

O palestrante deve usar recurso audiovisual de última geração e assinado por grandes nomes, tipo Spielberg ou deve apresentar um conteúdo totalmente inédito na história da humanidade, além de uma técnica de comunicação que enseje a lavagem cerebral de um auditório inteiro. Eu gostaria de ser um palestrante assim, embora seja um bom palestrante, mas admiro o talento e a diferença que ele faz nas relações profissionais e corporativas. Mas Lula é uma autoridade, dirão alguns. Então quanto seria uma palestra de ex-presidentes como Clinton, Bush, ou autoridades como Obama, Alan Greespan, Jack Welsh, Bill Gates, mesmo em dólares ou euros e geralmente destinada a instituições de caridade. E, uma pulga me picou atrás da orelha, quanto seria o preço pago por uma palestra proferida pela Rainha da Inglaterra?

Confesso que estou com muita inveja. Eu milito nos auditórios das pessoas comuns onde a experiência e o conhecimento é que referencia o valor da prestação de serviços. Mesmo atuando em áreas cujo interesse é notório e a dificuldade uma realidade, como tributação, nunca consegui auferir mais do que a média do mercado e, se pagas nos valores das palestras proferidas por Lula, eu já teria muitos milhões de reais em minha conta corrente, mas, lamentável, como profissional e nas teorias de pedagogia, eu sempre começava a palestra alertando que ela nada ensina apenas desperta em cada participante, de formas diferentes, o interesse em se aprofundar na parte do conteúdo que mais lhe motivar pessoal e profissionalmente.

Mas, jamais fiz uma palestra para a Odebrecht e diante da diferença de valores praticados, eu posso me considerar um analfabeto em tudo, apesar de anos de estudo e de prática profissional que me credencia como bom profissional. Marcelo, quando sair da prisão, se precisar de um bom palestrante, por favor, me dê uma chance. Não sei se darei a  empresa o retorno de outros palestrantes, mas garanto que sobre o assunto a ser proferido eu sou especialista e, como tal, não douro pílulas nem maculo contratos, afinal quem fala sobre tributação, mesmo que a considere justa ou injusta, deve se limitar à legalidade, como, acredito, outros palestrantes de outros ramos de conhecimento que sejam realmente palestrantes e profissionais sérios. Ou será que foi aí que eu errei? Pelo andar da carruagem vou terminar a vida como camelô até a aprender a vender alquimias como drogas maravilhosas que a tudo cura, sem qualquer efeito colateral. E os eventuais e posteriores escândalos?  E o caro leitor pergunta a mim? Eu não sei de nada. Perguntem a Marcelo e Lula, contratante e contratado de palestras ao preço de ouro e, espero, de resultados igualmente dourados.

Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, escritor e Poeta.  

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