PALAVRAS… IMBECILANDO – 

Estava aqui com meus botões pensando sobre as palavras. Eu me divirto com certas manias que carrego comigo, uma delas acontece sempre quando não encontro uma palavra que, de fato, faça jus ao que estou sentindo, daí tenho a ousadia de criar, inventar, ou mesmo juntar palavras que se aproximem do que quero expressar. Cada doido com sua mania, já diz o dito popular.

Vou abrir espaço aqui para contar um fato que aconteceu comigo numa dessas horas de “doido mania”: um dia meus filhos estavam com a gota serena, com a bixigataboca, danados a brincar de brigar no meio da sala -daquelas brincadeiras de criança que adulto finge não entender – isso, com a TV ligada no último volume, almofadas voando, sem falar no rebuliço grande que estava quase rebolando meu juízo no mato.

Eu já estava aperreadinha com tanta zoada, era muita barulheira e bagunça, estava prestes a pegar o beco – de verdade. Nesse instante de puro desespero, no meio de toda aquela presepara, com o intuito de fazê-los pararem com aquela marmota toda, no meio da sala, disse assim (berrando):

– Ei, ei, ei, ei… PAREM!!! Vocês estão “IMBECILANDO”?

Eles, tadinhos, não entenderam nada. Não era para menos, a mãe conseguiu arrumar um balaio de gatos maior que o deles. Só sei que, quando me dei conta do neologismo que havia acabado de criar, caí na gargalhada. A imagem de espanto estampada na cara deles, sem compreender o significado daquela palavra, é até hoje impagável.

Recobrando os sentidos, fui tentar explicar para os meus três filhos do que se tratava aquela nova palavra, uma mistura de dois velhos e conhecidos termos, bem usados no cotidiano da cidade em que morávamos: imbecil mais endoidando é igual à IMBECILANDO.

Só não me perguntem como saiu o tal adjetivo que nem eu vou saber responder. Sei lá, eu devia tá com a mulesta. Só sei que no meio daquele aperreio o nome saiu sem que eu pudesse racionalizar sua construção. O melhor de toda essa algazarra é que a danada da nova palavra surtiu efeito: eles pararam com o barulho e a bagunça, com os olhos arregalados olhando para mim.

Bom, preciso dizer que acabou tudo em pizza, rolamos pelo chão morrendo rir com o novo nome “IMBECILANDO”. Agora, depois de adicioná-lo ao nosso dicionário familiar, introduzimos ao nosso vocabulário e, vez por outra, usamos em situações caóticas no nosso cotidiano.

Eu sei, sou devota das palavras e seus significados, nem que sejam as criadas e/ou modificadas por mim, desde “vixe” (deformação fonética de “virgem”, diz quando se quer expressar espanto: “Vixe” Maria!) até ósculo, que não é uma corruptela de óculos.

Só mesmo as nossas amigas palavras para nos entender, não é mesmo?!
Valho-me delas nas horas incertas ou mesmo numa festa. Ah, nas festas não faltam ósculos, no rosto, na mão ou na testa. Cabida não, a mulesta!

Danou-se, deu até vontade de oscular.

 

 

 

 

 

Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência[email protected]

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