OS GENOCIDAS II: STALIN –

A Revolução Comunista Russa de 1917 foi um dos acontecimentos mais importantes da história do século XX, dando novos caminhos à humanidade. Vivia-se o período auge do capitalismo selvagem. Londres, a então “capital do mundo”, era um exemplo dessa época. De um lado, os ricos; de outro, a grande massa pobre. A revolução comunista suavizou o capitalismo, com uma melhor repartição das riquezas produzidas pela sociedade. Se os operários e camponeses russos passaram a ter expectativa de um melhor nível de vida, os trabalhadores da Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha, França e outros países realmente conseguiram esse direito. No Brasil, o governo começou a perceber que os problemas sociais não poderiam ser resolvidos pela polícia.

Se a revolução soviética foi importante para a história da humanidade, ela também teve o seu lado bárbaro. Canibalizou tanto seus opositores como alguns revolucionários. Logo após Lenin assumir o poder, os inimigos dos bolcheviques foram prontamente eliminados, a começar pela família imperial. Mas foi a partir de 1924 que o terror se intensificou. Stalin (Iossif Vissarionovitch Djugashvili) assumiu o comando do país com poderes ditatoriais. Expulsou do partido e do exército todos os seus possíveis inimigos ou rivais. Milhões foram presos, executados ou deportados para campos de trabalho na Sibéria. Estima-se que mais de 6 milhões de pessoas foram mortas. Os números são eloquentes: o censo de 1937 revelou que a população havia caído em oito milhões de pessoas, por causa da reforma agrária, da repressão política e das execuções. Entre 1937 e 1938, foram presos cerca de um milhão e meio de “inimigos do povo” e, oficialmente, realizadas “só” 681.692 execuções, uma média de quase mil por dia.

Ninguém estava livre da paranoia do ditador vermelho. De 1924 a 1926, o poder do Partido e do país esteve nas mãos da troika formada por Stalin, Lev Kamenev e Grigory Zinoviev, criada quando da doença de Lenin (1870-1924), o primeiro governante comunista. A segunda troika, que teve vida do final de 1926 até o final de 1928, era composta por Stalin, Nikolai Ivanovitch Bukarin e Alexei Rykov. Zinovyev e Kamenev foram executados em 1936. Burkarin e Rykov foram executados em 1938. Karl Radek, integrante do Comintern, faleceu na prisão. A stalinização do exército vermelho prendeu e eliminou três marechais, 14 comandantes de exército, 8 almirantes, 60 comandantes de corpos de exército, 136 comandantes de divisão, 221 comandantes de brigada, 11 vice-comissários de defesa, 75 membros do soviete militar e mais 528 outros altos oficiais e funcionários do setor militar.

Cientistas e intelectuais também foram atingidos pelo expurgo. Andrei Nikolaevitch Tupolev, projetista do avião que leva seu nome e do primeiro túnel aerodinâmico russo, e Sergei Korolev, que em 1933 construiu o primeiro foguete experimental soviético movido a combustível líquido, foram presos e enviados para a Sibéria. Também foram presos e deportados para prisões siberianas (ou executados) quase todos os astrônomos do Observatório de Pulkovo, os estatísticos que tabularam o recenseamento de 1937, centenas de linguistas e de biólogos, que refutaram a linguística e a biologia “oficial”, e cerca de 2 mil membros da União dos Escritores. Porém, a vítima emblemática do stalinismo foi Leon Trotski, o fundador do exército vermelho. Em 1927, foi expulso do partido e, em 1940, foi assassinado, no México, a mando de Stalin

Os crimes de Stalin foram denunciados por Nikita Khrutchev, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 1953, quando ele assumiu o cargo de secretário-geral do partido. Tempos depois, já como primeiro-ministro, lhe perguntaram por que não denunciou o terror de Stalin quando o ditador ainda estava vivo. Vermelho de raiva, o então chefe do governo soviético gritou: “Quem fez esta pergunta?” Ninguém respondeu. Já calmo, ele prosseguiu: “Pela mesma razão que você não se apresenta agora; simplesmente por medo”.

Calcula-se que de 1917 a 1953, ano da morte de Stalin, os expurgos, a fome, as deportações em massa, o trabalho forçado no Gulag e os fuzilamentos mataram algo em torno de 20 milhões de pessoas na antiga URSS.

Publicado originalmente em Tribuna do Norte. Natal, 17 nov. 2021

 

 

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Jornalista e historiador, do IHGRN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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