OS FALSOS LADRÕES DA MONA LISA –

Houve uma época que o sorriso da Gioconda desapareceu do olhar de multidões no Louvre. Leonardo da Vinci passou muitos anos para pintar os lábios enigmáticos dela, é de se imaginar que ela também não sorriria ao saber que três pessoas inocentes estavam sendo acusadas do crime de furto da famosa obra: dois poetas, o pintor genial Picasso, o avançado crítico do cubismo e poeta Apollinaire e o bon-vivant Honoré Joseph Géry Pieret.

Da Vinci, em óleo sobre madeira, retratou uma mulher florentina, com a sua técnica inovadora de Sfumato. O sentimento ecológico uniu a mulher à natureza. O quadro tem a proporção divina, o que lhe confere beleza como veio acontecer depois com Vermeer em “A Moça do Brinco de Pérola”.

A Polícia francesa promoveu a investigação e estava convencida de que haveria uma gangue estrangeira furtando os tesouros artísticos da França. Eram suspeitos um espanhol compulsivo colecionador de obras de arte, um polonês nascido em Roma e, depois, um imigrante belga. Os seus verdadeiros nomes já indicavam estranheza. O malaguenho tinha 23 palavras de batismo, ainda que usasse apenas o prenome e o sobrenome da mãe. Em Paris, Wilhelm Albert Włodzimierz Apolinary de Wąż-Kostrowicki afrancesou o seu nome, traduzindo Wilhelm por Guillaume, e também usando a semelhança fonética, tornou-se Apollinaire. O belga conhecido como Géry hospedava-se na casa de Apollinaire, era seu secretário, e já havia furtado pequenas estatuetas do Louvre.

 Os três amigos amavam atividades circenses. Picasso colocava os artistas em suas telas, Apollinaire nos seus poemas e Géry apenas sentia-se feliz nos espetáculos.

O juiz Drioux presidiu instrução do processo. Intimado, Picasso compareceu com camisa provocativa. Apollinaire foi algemado e levado para o Palácio de Justiça, onde ficou numa jaula.

No interrogatório, o magistrado disse a Apollinaire que, no mínimo, ele sabia quem havia furtado a obra de arte e estava acobertando um criminoso. Se não revelasse, continuaria preso por tempo indefinido. O poeta não se arriscou: “Foi Géry”. Picasso imitou São Pedro sobre Jesus, quando indagado se o conhecia, respondeu: “Não sei quem é este homem.”

Inicialmente a “Mona Lisa” havia sido doada ao rei Francisco I, que recebeu seu autor em Amboise por três anos e lhe proporcionara a aquisição do Castelo de Clos Lucé. Levada para Paris, durante o reinado de Luiz XIV, a obra foi instalada no Palácio de Versailles.

Já do Louvre, o Imperador Napoleão Bonaparte assenhorou-se da pintura para decorar o seu quarto de dormir, somente retornando ao museu após a sua derrota.

Na verdade, o autor da façanha criminosa foi um antigo funcionário do museu chamado Vincenzo Peruggia, que acreditava ter sido saqueado do seu país por Napoleão. Em Florença, o ladrão a ofereceu à Galeria Ufizzi por uma fortuna. Ainda que não adquirida, a Galeria fez exposição da obra famosa.

De volta ao Louvre, La Gioconda olha para quem a olha, em todas as direções. E, magicamente, sorri.

 

 

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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