OS COOPISTAS DO BOSQUE –

Denominam de coopistas a praticantes do exercício aeróbico criado pelo médico norte-americano Kenneth Cooper – o Teste de Cooper. Na verdade, um apelido para a popular corrida de rua. Pois bem, o Bosque dos Namorados, no Parque das Dunas de Natal, tornou-se o local predileto para coopistas de todas as idades.

Aquele espaço que preserva um pouco do que restou da Mata Atlântica no litoral do país é considerado o maior parque urbano sobre dunas do Brasil, que além de contribuir para a recarga do lençol freático e na purificação do ar da cidade, presta-se como moldura adequada para a prática do Cooper.

 

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Eu não sou coopista, mas gosto de caminhar no Bosque. Pertenço à turma dos madrugadores, porém, ando sozinho sem ouvir música e envolto nos meus pensamentos. Acontece de sempre nos depararmos com grupos em papos animados, que mais conversam do que correm ou caminham.

Ali se exercita o falar alto onde, concordando ou não, nos faz cúmplices de desagradáveis indiscrições. Os frequentadores do Bosque não precisam adquirir jornais ou revistas, tampouco ouvir ou ver noticiários de rádio ou Tv. Todas as informações presentes, passadas e futuras do estado e do mundo, eles as recebem em primeira mão bastando retirar os fones dos ouvidos – isso sem falar nas fofocas.

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Em determinada caminhada, sem querer querendo, presenciei engraçadíssima prosa entre dois senhores nos quais logo percebi traços de pessoas letradas e abonadas financeiramente. Eu terminara a série de exercícios e diminuíra o ritmo da marcha, e assim pude escutar o colóquio onde o tema era viagens.

–  … Por isso não! Câmara Cascudo escrevia sobre o mundo inteiro sem sair de casa, quando nem se vislumbrava a existência de computadores. Hoje, eu viajo para qualquer localidade do mundo e conheço o que bem entender de carona na internet – afirmou o senhor de cabelos grisalhos a um questionamento do seu interlocutor.

– Você já se imaginou observando Paris do alto da Torre Eiffel, saboreando o famoso “Coq au Vin” e degustando um fenomenal vinho Borgonha?

– Não. Mesmo assim duvido que se comparasse à saudosa “Carne de Sol do Lira”, regada a generosas doses de “Murim”, que funcionou nas Rocas, no Natal de antigamente – respondeu o grisalho contrariando o seu parceiro de caminhada.  

– É impossível que você não tenha vontade de conhecer a Torre de Londres e o quanto ela representa para a humanidade? – insistiu o mais viajado.

– Dou por visto! Aquilo não passa de uma prisão decadente onde os monarcas ingleses decapitavam as suas amantes. E digo mais, nenhuma daquelas rameiras amarravam sequer as sandálias das “quengas” do cabaré de Maria Boa.

– Cara, é difícil lhe agradar! Mas, se você visitasse o Coliseu de Roma aposto que mudaria de ideia diante da carga de história que o monumento detém.

– Aí é onde você se engana! Coliseu de Roma, campo de concentração nazista e cemitério, para mim não passam de antros de almas penadas.

Ao ouvir aquela opinião não contive o riso. O grisalho, percebendo minha atenção na conversa, perguntou se eu concordava com ele. Ao que respondi: Desculpe-me, mas não tenho opinião formada sobre o assunto! – e acelerei o passo para evitar entrar na discussão. Não sem antes ouvir o comentário do turrão contestador: Esse deve ser outro babaca azedo igual a você!

Calado eu ouvi, e me fui sem nada dizer… Dizer o quê?

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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