JOSÉ NARCELIO

José Narcelio Marques Sousa

Eu não gosto de escapulir do meu estilo ameno de escrever sobre fatos do cotidiano. Muito menos de abordar assuntos polêmicos como religião, política e futebol. Mas, uma vez ou outra, vejo-me instado a apelar para a insipidez de determinados temas, como faço agora, em razão da difícil fase que atravessa o país.

Onde foi que nós erramos para, em menos de dois anos, vermos o Brasil descambar para essa gama inesgotável de desacertos? Onde foi que nós falhamos, para nos depararmos com tantos exemplos desastrosos na saúde, na segurança e na educação?

Quem, em sã consciência, imaginaria ver a saúde pública reduzida ao estado de calamidade, semelhante ou pior ao encontrado por Osvaldo Cruz, quando deflagrou a campanha de erradicação da febre amarela e da varíola, no Rio de Janeiro, no início do século XX?

Com uma atenuante: o sanitarista invadia a privacidade do carioca e forçava a vacinação coletiva, diante da oposição de hordas de fanáticos e ignorantes. Diferente de hoje, onde pessoas cientes do mal que fazem, agridem o meio-ambiente prejudicando a si mesmas e aos demais, numa autoflagelação incompreensível.

Que mentes deformadas são essas, que permitem que 300 toneladas de medicamentos do povo percam a validade, porque os mantiveram estocados sem lhes dar a destinação devida? Isso, enquanto a população de menor renda sofria com o desabastecimento de itens básicos em hospitais do governo que, por descaso, incompetência ou o sei lá o que, apodreciam em depósitos públicos.

Não é à toa que a Bloomberg – portal americano especializado em economia -, ao medir a eficiência dos serviços de saúde em 48 países, nos honrou com a última posição. Isso, dois anos atrás.

E o que dizer da segurança do cidadão? Tomarei como exemplo, minha querida cidade do Natal, capital do Rio Grande do Norte, para generalizar a avaliação. Natal, desde quando me entendo por gente, foi uma cidade pacata e segura, sem integrar qualquer lista desabonadora de excessos cometidos contra o cidadão.

Entre 2010 e 2012, vimos Natal aparecer no Mapa da Violência no Brasil, ocupando a 154ª posição. Tínhamos 818 mil habitantes e foram assassinadas 913 pessoas no período. Pois bem, em 2015 saltamos para a 13ª posição entre as 50 mais violentas cidades do MUNDO – no rol das capitais brasileiras, somos a 4ª mais violenta. Jamais imaginei a pacata Natal, em tão nobre posição no conceito do mal.

Finalmente, a educação. Ah, a educação! Em 2015, no ranking da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil ocupou o 60º lugar entre 76 países listados. Pergunto: tal posição causou qualquer surpresa a nós brasileiros? Claro que não! Desde muito tempo atrás, temos conhecimento da má qualidade do ensino no país. As provas de redação do ENEM estão aí para comprovar essa verdade; quanto às demais matérias, o melhor é não procurar saber.

Ative-me nesta análise a três setores básicos de obrigatoriedade do Estado. Poderíamos estender o exame para outros segmentos da sociedade que, certamente, encontraríamos idênticos descalabros. Sei que a perfeição é inalcançável, mas, paciência, merecemos algo melhor do que isso que nos oferecem.

O que fazer para remediarmos o quadro? Onde foi que erramos?

José Narcelio Marques SousaEscritor e engenheiro civil

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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