OCIOSIDADE PREMIADA –

É a aposentadoria para quem cumpriu bem o seu dever social. É prêmio, recompensa merecida.

O ócio de quem se aposenta de suas funções não significa inatividade, inércia. Ao contrário, tem a oportunidade de, mais amplamente, beneficiar-se servindo à comunidade.

Os italianos criaram e difundiram a expressão: dolce far niente, a doçura de não fazer nada. É preciso lembrar que ficar parado, levar a vida sedentária e sem meta estabelecida mata. Nesse sentido, concordam os estudos científicos.

As sociedades antigas (gregas ou romanas) respeitavam o ócio, compreendido não como inércia, mas como liberdade de escolher a que se dedicar. A palavra ócio tem origem no grego arcaico scholé, que, no latim, tornou-se a palavra escola. Isso porque, para os antigos, só era possível dedicar-se a qualquer tipo de estudo os que tivessem tempo livre.

Desde o século XIX, quando o jornalista francês Paul Lafargue (1842 – 1911) publicou seu notório “O Direito à Preguiça”, a noção do ócio passou a ser revista. O ócio não é determinado pela preguiça, ainda que os dois sejam amados. Como lembra o poeta do Ceará -Mirim Juvenal Antunes: “Bendita sejas tu, preguiça amada, / Que não consentes que eu me ocupe em nada”.

A mais nobre das tarefas dos aposentados é a ação do voluntariado. Os voluntários preenchem as lacunas ou suplementam o trabalho das instituições, transmitindo às pessoas necessitadas o apoio, carinho, atenção, ouvindo as carências materiais e afetivas, para que busquem solucioná-las.

O premiado com a aposentadoria ganha o direito de adquirir novas habilidades, amansar os seus sentimentos e pensamentos, exercitar os seus hobbies, ouvir música, ler devagar, deitar e dormir comodamente o sono dos justos.

Trata-se do exercício do ócio criativo, pontificado pelo sociólogo e escritor italiano Domenico de Masi. O doutrinador expôs, na Universidade de Brasília, que o ócio não deve ter nada negativo quando estimula a criatividade pessoal. Ele defende o desaparecimento das ideologias vigentes e afirmou: “Vocês brasileiros podem ser um novo modelo para o mundo”.

Para os que têm vocação artística, é importante a atuação em qualquer dos mais variados campos, como: na música, na pintura, no design, na fotografia, na escultura, na gastronomia. Planejar a vida para que seja o mais próximo possível da desejada. A atuação trará o bem-estar pessoal, a vital aprovação.

Com a industrialização, os países introduziram a aposentadoria, assegurando o sustento de vida a trabalhadores idosos, tirando-os da mendicidade. No Brasil, o sistema de aposentadoria, realizado pelo INSS, busca o desejável, o benefício conferido por incapacidade, idade avançada, tempo de serviço e de contribuição. A lei também estabelece, paralelamente, a fixação de pensão por morte. Não nos situamos, entre os melhores, nem entre os piores regimes de aposentadoria do mundo conhecido.

Precisamos dar ao ócio a dignidade merecida.

 

 

 

 

Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

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