O VELHO TRAPICHE –

Era um dia do mês de setembro do ano de 2015. Céu aberto, pouca nuvens, noite de lua, dita a maior lua dos últimos dezoito anos. Só, nos meus pensamentos, resolvi voltar no passado. Comecei a dirigir meu carro em direção a Redinha, que quando eu era menino, chamávamos de Ridinha, pois era o nome que estava escrito no velho clube construído de pedras do mar – RIDINHA CLUBE.

Passei a ponte nova, com uma bela vista das praias, trânsito ruim – não é novidade, mas consegui chegar ao velho mercado público. Olhei meio desolado a paisagem, já não via o meu passado, mas tinha muito bem na memória, as passagens da minha vida vivida naquela praia.

Procurei um lugar para acomodar-me e refletir sobre a vida, tirei os sapatos, fui até abeira do Rio Potengí. Abri a camisa para sentir melhor a brisa da maré, olhei para o velho Clube, senti a desolação da idade.Lembrei-me de uma música, gravada por Demetrius, que eu cantava muito quando era jovem – eu gostava de cantar, até virei compositor: Ei meu pai/Eu “inda” era menino e você me chamou/Mostrou-me o caminho e me ensinou/Aquele que julgava ser melhor/ E eu segui meu pai.

Voltei à vista para o rio, lembrei-me do velho trapiche – assim era chamado, um pequeno cais de madeira, onde eu ia esperar meu pai todos os dias que voltava à tardinha do trabalho. O velho trapiche já não está mais lá, mas as lembranças ainda muito vivas. Era por ele eu a meninada e rapaziada fazia o trampolim, mergulhando no rio. Por ele passava a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes, no dia de sua procissão. Por ele passam os veranistas,  amigos de meu pai: Dante de Melo Lima, Antonio Barra Maia, Wilson Maranhão, José Emerenciano, João Ferreira, José Herôncio, Limarujo, Etiene Reis, Túlio Fernandes, Leonel Leite, Mirabeau Pereira, Humberto Teixeira, Aldair Vilar e outros. Lá era ponto de encontro entre rapazes e moças. Das moças, Lembrei-me de Tereza e Lurdinha Maranhão, Gilda Maia, Regina e Nininha Emerenciano, Mônica e Virgínia Lima, as irmãs Dóris, Auxiliadora e Ângela Fernandes, Sonia e Olga Severo, Ana Maria Cabral, Tásia Sá, Meninos e rapazes, lembrei-me de Neilson e Wilson Maranhão, Os irmãos Carlos, Eduardo e Maurício Maia, Aécio e Gotardo Emerenciano, Bochechinha, Roberto Limarujo, Roberto Etiene, irmãos, Túlio, Sebastião e Caio Flávio Fernandes, irmãos Ivanaldo, Expedito, Ivanilson e Leonel Leite Filho, João e Antônio Ferreira de Melo, Sergio e André Lima, de  Jovelino Marques  meu colega de seresta, de Gerson Dumaresq e Eduardo Pinheiro de Moura, companheiros da nossa pequena “república”, e outros. Olhei para o mercado e Lembrei-me da barraquinha de Dona Severina, irmã de um guarda de trânsito apelidado de “Ridinha”, onde a gente passava as madrugadas tomando umas e outras pois, a luz se apagava as vinte e duas horas, do local de Geraldo e Dalila, onde se comia ginga com tapioca – minha primeira refeição na lua de mel, da venda de Francisquinho a onde a gente comprava Martine e Cinzano, dos “boteiros” Janjão, Gonzaga e Ferrinho, da lancha de Luiz Romão. Lembrei-me dos amigos William Cantídio e Tota Zeroncio, De Paulo Balá, Breno Fernandes, Zé Luiz Leal, Jahyr Navarro, Conceição e Tatá Emerenciano, minha irmã Niris e meu cunhado Raimundo Jovino, João Bolão. Algumas destas pessoas não estão mais entre nós, mas as suas presenças, muito viva em meu coração.

A lua já vinha surgindo por cima do Forte dos Reis Magos, vi que era hora de partir, mas antes sem lembrar-se da imagem do meu pai, andando no velho trapiche, lembrei-me dos versos da música de Demétrius.

Ei, meu Pai/ Você só não falou das coisas tristes, Pai/ Você não me falou das amarguras, não/ Por todas que eu teria que passar, meu Pai.

O vento estava frio, começou a cair alguns pingos de chuva, talvez o céu me fazendo companhia para que eu não chorasse sozinho. As lembranças era muito fortes, uma época que ficou no meu imaginário.

 

 

Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN

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