O VELHO ATHENEU – 

Realmente, o Colégio Estadual do Atheneu Norte-Riograndense não é apenas uma tradicional instituição do Estado, mas uma casa de ensino quase bicentenária com 183 anos de existência, aberta em fevereiro de 1834, na monarquia.

Segundo apontamentos de Luiz da Câmara Cascudo, o fundador do Atheneu foi Basílio Quaresma Torreão, então presidente da província e, também, o seu primeiro diretor-geral. Trata-se da segunda mais antiga instituição escolar brasileira, precedida apenas pelo Ginásio Pernambucano, criado em 1825.

As diferentes sedes do velho Atheneu

O meu velho Atheneu de guerra foi o berço que embalou algumas das minhas amizades sinceras. Hoje funciona como repositório do catálogo de lembranças marcantes da minha juventude onde, uma vez ou outra, eu acesso para reviver aquelas inesquecíveis passagens repletas de emoção ou de hilaridade.

Estudei no Atheneu na gestão de Olindina Gomes da Costa, a primeira mulher a assumir a diretoria-geral. O colégio ainda dispunha de eminentes cabeças pensantes no corpo docente.

Naquele tempo ficávamos de pé, num sinal de respeito, quando professores entravam na sala de aula. Na grade curricular constavam idiomas como Inglês, Francês, Latim e Espanhol, além do Português.

Tenho na ponta da língua alguns trechos do primeiro capítulo do livro de Espanhol vigente no ginasial, cujos título e autor não consigo resgatar da memória. Tratava-se de um poema de Francisco Villaespesa que continha as seguintes estrofes:

Caperucita, la más pequeña de mis amigas, en dónde está?

Al viejo bosque se fue por leña, por leña seca para amasar.

Caperucita, di, no há venido? cómo tan tarde no regresó?

Tras ella todos al bosque han ido, pero ninguno se la encontró.

Lembro-me também que, exercitando a minha santa ignorância, testei a professora de Inglês sobre o significado de Ten Bryan. E ela, coitada, diante daquela sentença esdrúxula não soube traduzir minha dúvida. Afinal, qual o sentido de Ten Bryan?  Dez colina? Dez montanha? Qual outro significado atribuir a Ten ou a Bryan?

Ufanei-me por embasbacar a professora. Passado algum tempo fiquei envergonhado de mim mesmo ao ler na farda de um oficial do Exército, outra plaqueta de identificação dizendo Ten Cardoso. Isso mesmo, tratava-se do posto e do sobrenome do militar, no caso, Tenente Cardoso. Antes, eu conhecera o Tenente Bryan.

Alcancei o ocaso da liderança de Manoel Filgueira Filho, vulgo Pecado. Líder estudantil entre os secundaristas do Atheneu, comandava greves estudantis e aplicava trotes em calouros aprovados nos exames de admissão realizado pelo colégio.

Ao ser considerado um dedo-duro, por apontar colegas a órgãos de repressão ligados ao golpe de 1964, Pecado perdeu o respeito e a liderança dos pares.

A construção em “X”, característica do Atheneu-Norteriograndense

Porém, o momento mais esperado de cada dia de aula era o retorno para casa das alunas do Colégio Imaculada Conceição. Sentados no muro da Rua Potengi, aguardávamos a passagem das meninas de azul e branco para assoviarmos marchas militares. E elas, inconscientemente, entravam no compasso da música.

Percebendo que estavam marchando, elas tentavam sair do compasso resultando em descompassos engraçadíssimos, para deleite da turma. Mesmo sabedoras da gozação, as meninas não se chateavam nem alteravam o percurso diário.

Devo muito do que aprendi no meu Atheneu de ontem, pelo o meu hoje na vida.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

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