O USO DO PALANQUE ELETRÔNICO –

Na reta final de uma campanha eleitoral considerada atípica, até mesmo no tempo destinado aos candidatos para à propaganda gratuita, no rádio e no horário nobre da TV, o eleitor brasileiro pôde constatar o despreparo e a improvisação daqueles candidatos que, mesmo sabendo que não tinham condições de representarem à população, insistiram em fazê-lo.

Amparados pela legislação e por um regime que garante liberdade de expressão, essas figuras se misturaram a outros postulantes comprometidos, todos em busca de serem eleitos.

A semelhança de comportamentos e atitudes na telinha da TV permitiu, ao eleitor mais atento, identificar grupos de candidatos que tentaram verbalizar suas mensagens de uma só forma, como se rezassem por uma única cartilha ou, alternativamente, como se tivessem um só marqueteiro a lhes orientar.

O primeiro grupo foi integrado por àqueles que tendo dificuldades de expressão, fixavam os olhos ao texto que iriam ler para não errar tanto. Repetindo chavões conhecidos — vou lutar pela saúde, vou trabalhar pela educação —  esses candidatos usaram desse artifício, na perspectiva de impressionar quem lhes via e ouvia. Numerosos, o perfil desse grupo é o de postulantes sem recursos e que sonham com um cargo qualquer. Nas pesquisas de opinião foram ignorados.

O segundo constituiu-se dos excêntricos que se candidatam ao sabor das eleições. Indisciplinados, os integrantes desse grupo não se fixam em textos pré-estabelecidos, preferindo o insucesso do improviso. Como também não dominam a oratória, terminaram por se exporem ao ridículo. Menos numerosos e personalizando a figura do livre atirador, não raro alguns desses indivíduos disparam nas urnas, através do chamado voto de protesto.

Outro grupamento referiu-se aos candidatos com independência financeira e que dispunham de estruturas de assessoramento. Sorridentes e bem produzidos, eles apareceram na telinha com a fisionomia de quem já ganhou, verbalizando propostas para salvar a vida dos mais pobres. Diferentemente dos outros grupos, esses abastados, via de regra, frequentam as pesquisas de opinião e quase sempre adquirem seus mandatos. Só temem os índices de rejeição !

O quarto grupo foi formado por àqueles que estavam na luta pela renovação ou mudança de seus mandatos. Com apoio de estrutura partidária, os participantes desse grupo além de aparecem em filmetes abraçando criancinhas e dando tapinhas nas costas do povo, utilizaram-se da retórica como arma de convencimento. Para se diferenciarem dos demais, exibiram suas realizações passadas como troféus conquistados. O perfil desse grupo é o de intimidade com o eleitor, todavia, às vezes, são atropelados e ficam sem mandato.

Finalmente, tivemos o contingente daqueles candidatos que exaltaram o fato de terem um diploma qualquer, na tentativa de serem eleitos com mais facilidade. Trata-se de um conjunto eclético, que apoiados no chavão – sou o doutor fulano ou sou o professor sicrano –, adotaram uma postura professoral, de donos da verdade. Apesar de impressionarem a imensa massa de eleitores meramente alfabetizados, nem sempre obtêm sucesso.

Como vimos, apesar das estratégias adotadas para induzir o eleitor a votar num político comprometido, ou num candidato maquiado ou mesmo num pretendente debochado, observa-se que o processo de angariar votos, no palanque eletrônico. ainda continua o mesmo: destila-se conhecimento, promete-se o impossível e aponta-se solução para tudo. É nesse cenário de salvadores da pátria — ou de salvadores de si mesmo — que o eleitor, sobretudo o mais desavisado, terá que se posicionar para escolher o melhor. Não será tarefa fácil !

 

 

Antoir Mendes SantosEconomista

 

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