O TEMPO VELOZ COMO RAIO DE LUZ –

Outro dia revendo foto de antigamente, lembrei de companheiro das antigas, vez que residíamos na mesma rua no bairro do Farol. Seu genitor mudara-se da cidade para o sul do país, e desde então não mais nos encontramos.

Éramos bem jovens ainda, cabelos aos ombros enquadrando o rosto coberto por barba espessa, conjunto que em nosso pensar de então, parecia fluir com elegância despretensiosa, conferindo-nos toque de mistério e harmonia única, enquanto o futuro esboçava-se diante de nós como tela em branco, carregada de expectativas e possibilidades, sempre entrelaçadas com a esperança de realizações e conquistas.

Recentemente retornei a Nova York com Ana minha esposa, trazendo conosco três dos nossos seis netos, quando coincidentemente esbarrei com aquela criatura, após décadas de afastamento. Nos abraçamos, ao tempo em que encarando sua face, verifiquei o brilho de outrora transformara-se em névoa pesada.

Almoçamos juntos, tempo suficiente para rapidamente notar que para ele o tempo se desdobrava em melancolia, a chuva parecia cair ritmicamente dentro de seus olhos, como lagrimas do céu, e enquanto recordava momentos que o relógio não podia deter, descrevia lembranças de amores que se desvaneceram como nuvens passageiras e sonhos dissipados nas asas do vento.

Dias depois, recordando o velho amigo, hoje um solitário, compreendi com propriedade, que o tempo veloz como raio de luz, eterno, efêmero, rapidamente nos escapando entre os dedos, não somente tece a trama de nossas existências, como forja memórias tais quais tatuagens, que possuidoras do poder de contar histórias silenciosas, fortalecem identidades e conectam indivíduos com seu destino, e assim com a sucessão das estações moldando o ritmo do cotidiano, aquilo que parece recente transforma-se em capítulos a serem contados.

Atualmente, trago a certeza de haver vivido excelentes experiências, desbravado paisagens exóticas, mergulhado em culturas distintas, provado aventuras inesquecíveis, frequentado muitas pessoas boas, experimentado aventuras interessantes, sorrido, chorado, e principalmente sentindo-me realizado por ter uma família para amar.

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

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