O TELEGRAMA –
Em Nova-Cruz (RN), há décadas, entrando pelo século passado, o casal Dona Rita e Seu Nicanor recebeu um telegrama do Recife, comunicando que seu filho Zenilton, caminhoneiro, havia morrido num acidente de caminhão.

O clamor foi geral e a notícia se espalhou pela cidade, deixando a população arrasada. Todos lamentavam a morte do jovem rapaz.

Os pais e irmãos choravam desesperados, sem saber como se comunicar com a pessoa de Recife, que subscreveu o telegrama, pois o nome era desconhecido.

Nesse tempo, os meios de locomoção e comunicação eram limitados. O trem para Recife só partia às 3 horas da manhã. A família estava desnorteada, pois não tinha parentes em Recife e não sabia a quem se dirigir, para se inteirar dos detalhes do acidente, e saber  se o corpo da vítima poderia ser trasladado para o sepultamento em Nova-Cruz.
 O desespero tomou conta de todos, e ninguém sabia por onde começar,  para providenciar o traslado do corpo do seu ente querido para Nova-Cruz.
O entra e sai na casa do casal era interminável e a solidariedade tomou conta da cidade.
Pois bem. No final da tarde, quando menos se esperava, estacionou um caminhão na frente da casa dos pais de Zenilton, e, como um fantasma, desceu da boleia a “própria vítima” do suposto acidente, bonzinho da Silva, intacto, sem entender porque havia tanta gente na casa dos seus pais, que era a sua própria casa.
Foi desmaio “a torto e a direito”, e nunca apareceu o responsável pelo telegrama. Havia mil suspeitos na cidade, rapazes astuciosos e baderneiros, capazes de forjarem qualquer coisa contra alguém, somente por maldade e para se divertir com o sofrimento alheio. Mas ninguém tinha provas de quem poderia ter sido, para poder acusar.
No final das contas, o suspeito principal terminou sendo o próprio Zenilton, que, depois de algum tempo, passou a dar ótimas risadas, quando alguém tocava no assunto do telegrama.
Seus pais, beirando os 60 anos, e sem acreditar que o filho estivesse vivo, demoraram a sair da prostração em que ficaram, com a notícia contida no telegrama.
Quando o progresso começou a chegar a Nova-Cruz, com a vinda da Energia de Paulo Afonso (década de 60), anos depois, foi instalada na cidade a  Telecomunicações do Rio Grande do Norte S/A  (TELERN), empresa operadora de telefonia do sistema Telebrás. Permaneceu em atividade de 1964 até o processo de privatização em julho de 1998. Depois desse processo, as operações de telefonia fixa foram absorvidas pela Telemar.
Com a chegada da telefonia em Nova-Cruz, que começou com um posto telefônico e um funcionário para levar recados nas casas, chamando o destinatário para atender à ligação, logo depois, quem pôde, comprou uma linha telefônica.
Como faca de dois gumes, a instalação de linhas telefônicas nas residências trouxe alguns problemas: os trotes telefônicos.
Havia um sujeito em Nova-Cruz, desocupado, cuja distração passou a ser passar trote para pessoas da cidade. Nem as freiras escapavam da sua maldade. Telefonava para o colégio e pedia para falar com Irmã Virgem. A resposta era de que naquele colégio não havia nenhuma “Irmã Virgem”. Ele dizia: era isso o que eu queria saber, e desligava. O telefonema se repetiu diversas vezes e foi preciso uma queixa à polícia, para se descobrir e punir o autor.
Essa mesma suposta pessoa dava, pelo telefone, notícias falsas da morte de alguém,  provocando até viagens de familiares, para comparecerem  a enterros de pessoas que estavam vivas.
Fora isso, até fuxicos dizendo que aquela pessoa estava sendo traída (o) pelo cônjuge, ele fazia, para ver a confusão feita, ou como se diz, ver o circo pegar fogo
A polícia descobriu o autor dos trotes, e ele foi processado.
É impressionante, como tem gente pra tudo neste mundo. E ainda sobra alguém pra tocar flauta.

Violante Pimentel – Escritora
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