O QUE LEVO NA PARTIDA? –

Nada aqui me resta” (‘Vou-me embora’, música de Paulo Diniz).

Quando vamos viajar, uma das providências é tirar a mala do armário, limpá-la e abrir a tampa. Talvez nela tenha ficado alguma coisa que lembre a última que foi feita: uma sacola, um folheto turístico, uma fitinha do Senhor do Bonfim, o ticket da passagem aérea com o destino em três letras maiúsculas ou alguma emoção que não se repetirá, ou sim?

E você o que tem encontrado?

Bem, em um ponto concordamos: não deixamos para arrumar a mala minutos antes da viagem, ou deixamos?

“Minha mala é diferente da sua” – me diz você. Mesmo que o destino seja comum, as necessidades são personalizadas e, como tal temos que organizar utilmente para não levar coisas desnecessárias, que certamente nos aborrecerão, por não termos avaliado seus usos e desusos compatíveis com o lugar, o clima, os eventos, enfim.

Assim também ocorre com a mala mais especial – aquela que vamos arrumando com a alma, para a viagem mais importante: a de volta ao Pai.

Essa mala não pode ser ocupada com atitudes que imprimam peso, pois não teremos força para transportá-la e certamente não haverá espaço no bagageiro do ‘expresso’ que vagueia pelo caminho até a nossa nova morada.

Essa mala, diferente daquela primeira, requer que diariamente seja revista, esvaziada e preenchida com coisas úteis – amor, gratidão, reconhecimento, perdão, boas ações, solidariedade, respeito, dores superadas, mágoas esquecidas, laços reatados.

Esses itens nunca serão suficientes para encher a mala e seu peso se tornará leve, pois eles, em si, não serão fardos e sim bônus para uma viagem tranquila.

Seu passaporte talvez não receba nenhum visto, pois na ‘alfândega dos méritos’ será exigido apenas o olhar sereno, e confiante que os ‘descartes’ foram feito de forma consciente e, que seguiram todas as bem-aventuranças que moldaram nossa vida.

Talvez neste momento você entenda que erros cometidos foram confessados; orgulho de nada serviu; mentiras foram dissolvidas em verdades; medos foram superados; traumas não deixaram marcas, desavenças foram conciliadas e isso é perceptível quando passamos no ‘Raio D’ e lá, na aura do espírito, está gravado com letras divinas: PERDÃO.

Opa! Um detalhe: a partir da passagem pelo ‘Raio D (de Deus)’ sua mala de tão vazia e sem necessidade será reciclada e transformada em matéria prima para mostrar aos que ainda estão juntando ‘troços’ terrenos, que a única valia para transportar até aqui – amor – já vem gravada ‘digitalmente’ no coração.

E o dia da viagem?!

O bilhete está em aberto. E por isso fique vigilante com sua mala. Talvez não dê tempo arrumá-la de última hora.

Coloque um aviso na agenda da vida: “vigiai e orai”

Esse alerta certamente aliviará fardos desnecessários na mala. Com isso ela estará sempre pronta para a viagem mais importante da sua vida.

Paulo Diniz canta em “Vou-me embora”:

“Vou-me embora / vou-me embora / vou buscar a sorte /caminhos que me levam / não tem Sul nem Norte / mas meu andar é firme / meu anseio é forte / ou eu encanto a vida / ou desencanto a morte…”.

 Eu digo, encante a vida!

Mas… Cuide da mala, revisando diariamente seu conteúdo.

 

Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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